Revista Ide e Anunciai 15. Minha experiência no Brasil

Em 1948, ano das escolhas para o futuro de minha vida, com apenas 11 anos, pensei mais seriamente na vocação sacerdotal e missionária que vinha amadurecendo fazia algum tempo. A decisão final aconteceu justamente naquele ano, quando num dia de festa, na missa, os frades Agostinianos Descalços de Fermo anunciaram a saída dos três primeiros sacerdotes para as missões no Brasil. “Não tenho mais dúvidas, pensei, eu também serei missionário” e ingressei no Seminário “Madonna della Misericordia” na mesma cidade.

Desde o dia de minha ordenação sacerdotal manifestei aos superiores o desejo de partir para as nossas missões, onde a necessidade de padres era muito mais urgente do que na Itália; mas me seguraram na Itália com tarefas diferentes das que almejava.

No mês de junho de 1979, quando já tinha 43 anos, o Prior geral, Frei Felice Rimassa concedia-me partir para as missões no Brasil. “Deo gratias – pensei – antes tarde do que nunca”. Logo comecei a preparar os documentos junto à Embaixada brasileira. Estando em Roma, aproveitei para participar da audiência do Papa João Paulo II, recém eleito. Consegui beijar-lhe a mão e pedir sua bênção. O Santo Padre, colocando com força sua mão na minha cabeça, com voz clara e decidida disse: “Vá tranquilo, não tenhas medo, o Senhor estará contigo”. Aquela mão sobre a minha cabeça e aquelas palavras foram como gasolina no fogo de meu entusiasmo que explodiu com maior energia. Agradecia-te continuamente, meu Deus e te pedia a luz e a força para cumprir a nova missão segundo a tua vontade.

Chegando ao Brasil juntamente ao clima tropical, encontrei o calor humano ainda mais forte, aquele dos confrades e dos numerosos fiéis, colaboradores e amigos que com alegria me aplaudiam e me acolhiam festivamente.

Tinha saído com a vontade de dar, incentivar, ensinar, e talvez…converter; acabei aprendendo a ser incentivado e encorajado ao ver tanta fé e vivencia cristã. Não tenho encontros ou eventos especiais para contar, mas somente as pequenas coisas que cotidianamente nosso povo fazia com simplicidade e amor. Chamava-me a atenção o continuo repetir o nome de Deus, percebido como parte de sua vida, motor e artífice de tudo. Não existia discurso ou assunto em que não entrasse Deus. Sua fala era recheada de expressões: “Graças a Deus, se Deus quiser, Deus te abençoe, Deus lhe pague, Deus está perto de mim, Deus é grande.” A ternura com que os pais cumprimentavam, assinalando a testa e dizendo aos filhos ao saírem: “Que Deus te acompanhe e te proteja”, e os filhos respondendo com seus olhos brilhantes. Tratava-se de uma fé genuína expressa com gestos simples, mas que dava uma grande abertura ao coração. Toda vez que via um destes pequenos gestos cotidianos, dava graças a Ti, ó Deus, que me fizeste encontrar esta realidade tão diferente dos nossos encontros frios, das nossas palavras comedidas, do nosso querer aparecer. Nestas pessoas via a Ti, Jesus, que vinhas ao meu encontro para mostrar-me teu rosto cheio de amor e compreensão, via a Ti, Jesus, que não buscas o milagre ou o fanatismo religioso, mas o abandonar-se sereno a Ti no cotidiano.

Como Pároco tinha uma tarefa muito comprometedora: dirigir no caminho do evangelho uma grande comunidade. Era a primeira vez que desempenhava um serviço tão oneroso e sentia toda a sua responsabilidade. Carga pesada, mas o trabalho pastoral foi sempre o objetivo principal de minha vocação.

Nos dias mais cansativos do serviço paroquial lembrava-me das palavras do Papa antes da saída: “Vá tranquilo, não tenhas medo, o Senhor estará contigo”. Portanto comecei a trabalhar com confiança, pondo todo meu empenho e entusiasmo.

Estava contente pelo que tinha sido chamado a ser e a realizar. De um lado senti-me pobre, frágil e limitado, por outro percebia que Tu, Senhor me querias homem da esperança, enviado a sustentar, encorajar e iluminar.
Era consolador ver as crianças crescerem no conhecimento e na prática da fé, dirigirem-se ao Senhor como a um amigo, servir ao altar com vivacidade e entusiasmo e, aos domingos, ver a comunidade toda reunida na igreja como uma grande família. O que mais me entusiasmava era o grande número de crianças, adolescentes e jovens. O Brasil é o país do futuro, os idosos quase não aparecem no meio de tantos jovens. À noite estávamos cansados, às vezes vinha a tentação de pensar que éramos heróis, mas, depois concluíamos realisticamente que o herói era ele, o nosso povo cristão, humilde, pobre, mas rico de fé e de amor. Não posso nunca esquecer os numerosos exemplos que me sustentaram e encorajaram. Exemplos de fé viva que me edificaram justamente no meu serviço como pároco.

Frei Eugenio em Bom Jardim (RJ),
2002.

Quando encontrava alguma dificuldade, às vezes cultivava pensamentos de auto complacência: achava-me mais missionário … quase um herói, como os antigos pioneiros. Estes vãos pensamentos dentro de mim acompanhavam-me até chegar às capelas. Lá as encontrava empilhadas de gente, apesar do atraso, às vezes devido às dificuldades do caminho a percorrer. Todos nos esperavam, após ter andado vários quilômetros de a pé e com as criancinhas no colo; estavam todos à nossa espera, nossos fiéis, vindos de longe, enfrentando o calor tropical, para poder escutar a voz de Deus e celebrar os Sacramentos. Estes são os verdadeiros heróis, pensava comigo mesmo. Assim vencia o cansaço o medo e os vãos pensamentos! Confesso que diante de tanta fé, lágrimas de comoção, às vezes saíam de meus olhos, ficava vermelho no rosto, envergonhado por ter-me considerado algum dia um missionário herói, e agradecia a Deus por ter-me dado muitas vezes prova de que os verdadeiros heróis eram eles, nossos humildes, pobres e tão provados fiéis.
O rádio era para mim um meio precioso de evangelização, que permitia-me de estar em contato contemporaneamente com todos os paroquianos, especialmente com aquelas comunidades que podia visitar poucas vezes ao ano. Este recurso valioso encurtava as distâncias. Falando pelo rádio, era como se tivesse toda a comunidade paroquial, espalhadas em centenas de quilómetros, reunida no mesmo auditório.

Passei muitos anos no Brasil nas paróquias de Ampère (PR), Rio de Janeiro (RJ), Nova Londrina (PR), Bom Jardim (RJ) como pároco e Prior da Comunidade. Foram anos de trabalho e ao mesmo tempo de muita satisfação e experiência. Algo importante me chamou a atenção e me alegrou: a presença e o envolvimento ativo e responsável dos leigos na vida da Igreja. Em cada paróquia, sempre encontrei a colaboração de vários grupos laicais que, após uma séria preparação, dedicavam tempo e energias na ajuda aos sacerdotes na organização pastoral. Trata-se de um verdadeiro milagre, fruto do amor que estas pessoas tem para com Deus, com a igreja e o próximo.

Outra realidade ficou gravada em mim: o número de jovens. Sendo italiano e acostumado a viver num país com uma população prevalentemente idosa, fiquei verdadeiramente maravilhado ao ver, no Brasil, uma maciça presença de jovens abaixo dos 25 anos. Agora posso sinceramente afirmar que foram os jovens, nos anos de minha atividade missionaria, que mais me ajudaram com seu entusiasmo e alegria juvenil em todas as atividades paroquiais.

Meus colaboradores sacerdotes, Dom Luís Vicente Bernetti, Frei Possidio Carù, Frei Rosario Palo, Frei Luigi Kerchebamer, Frei Doriano Ceteroni, Frei Calogero Carruba e Frei Vicente Mandorlo e outros, foram todos companheiros de viagem, maravilhosos, ativos e incansáveis educadores de nossos seminaristas através do exemplo de uma vida religiosa levada a sério, da oração e das continuas instruções no intuito de modelar futuros e bons religiosos Agostinianos Descalços.

Agora, Senhor, com meus 80 anos, impedido de trabalhar por minha fragilidade e enfermidade, dirijo-me a Ti de coração, suplicando-te por todos os que me ajudaram no serviço pastoral no Brasil, dá-lhes a recompensa da tua paz, amor e bênção. A quantos batizei concede a graça de serem sempre filhos dignos de teu amor e testemunhas fiéis de tua palavra. A quantos, em teu nome, uni em matrimônio, concede a graça do amor e paz doméstica e tanta felicidade também a seus filhos e aos filhos dos filhos. Aos que não quiseram aceitar tua palavra, concede a graça do arrependimento e de poder ouvir, no último momento da vida, como o bom ladrão, “hoje mesmo, estarás comigo no paraíso”. A quantos conheci, e já deixaram este mundo, a paz eterna dos justos. A todo o povo brasileiro, fé, amor, justiça e muita felicidade.

Frei Eugenio Giuliano Del Medico, oad

Revista Ide e Anunciai 14. Recordando com fé e gratidão

Bela coincidência: nasci na mesma época que em Roma a Ordem dos Agostinianos Descalços estava planejando a abertura da missão no Brasil com a escolha e depois o envio dos primeiros três confrades em 1948. Para a história, outros confrades italianos, como os doze apóstolos, ao longo dos vários anos deram continuidade à missão. O primeiro grupo saiu de Genova, de navio, saindo do Convento – Santuário della Madonetta, em que, depois de 15 anos, entrei para fazer parte da Ordem, e do qual sai, 30 anos depois para me juntar aos demais já bem ativos no Brasil.

Conta Santo Agostinho no seu famoso livro “As Confissões” que numa noite, numa grande luta espiritual abriu a Bíblia, e a palavra que o Senhor lhe deu, realizou-se imediatamente na vida dele (Rm 13,13). Também num dia de oração abri a Bíblia e encontrei o começo do capítulo 12 do profeta Ezequiel: “filho do homem, prepara a tua bagagem e emigra para um pais estrangeiro”. Na hora não entendi nada, mas lembrei-me, com gratidão” quando os meus superiores, alguns meses mais tarde, pediram-me se eu estava disponível para a missão no Brasil.

Seminário de Cebú – Filipinas.

Tantos sentimentos: alegria, esperança, dedicação, mas também não faltou o medo e a preocupação; partir para o Brasil foi uma aventura. Foi-me falado que fé quer dizer confiar em Deus e “dar um pulo no escuro, mas não no vazio!”
Tentei-me acompanhar com o Frei Francisco Spoto que depois de umas semanas na Itália voltava para o Brasil. Foi a minha segurança, mas só por algumas horas, porque tinha clima de greve improvisa, que justamente começou mais uma vez entre mim e ele; ele viajou e eu fiquei, pegando o mesmo avião na semana seguinte, não sozinho, mas com Deus.
Quando cheguei no Brasil, as casas da Ordem eram três, Santa Rita na cidade do Rio de janeiro, Bom Jardim no interior do Rio de Janeiro, e Ampére no Paraná que tinha sido aberta recentemente. Chegando no Rio de Janeiro, fiquei o tempo necessário para conseguir o Visto, além de me familiarizar com a língua; era justo a época da construção da Igreja de Santa Rita, ajudei a descarregar o granito para o piso da igreja, e ainda celebrei na capelinha anterior como também na favela da Praia de Ramos.

Primeiros seminaristas filipinos.

Meu interesse e minha paixão sempre foram as vocações sacerdotais e religiosas, por isso fiquei bem contente por ser destinado ao Seminário Santo Agostinho de Ampére, recém construído e que tinha acolhido os primeiros 17 meninos, que cursavam o ensino fundamental (5ª a 8ª séries). Quando cheguei em Ampére só tinha 14; acabamos o ano letivo com 10; no ano seguinte, dos velhos voltaram 06, mas nenhum deles chegou à meta. Mas daqueles que entraram no segundo ano, vários hoje são padres. Aumentaram os seminaristas, e duas vezes foi aumentado o seminário e chegou também o tempo para encontrar um lugar para os que iam cursar a Filosofia. A cidade escolhida foi Toledo (PR). Todo começo é difícil, tanto mais quando as perspectivas são grandes, mas Alguém está sempre junto na obra. Parece impossível, mas na primeira viagem para Toledo, nos últimos quinhentos metros, da paróquia do Menino Deus até o lago, (que na época era só um açude e um banhado) na Parigot de Souza, furou três vezes o pneu! Acostumado com isso, não fiquei maravilhado quando anos mais tarde, nas Filipinas, indo para abrir uma nova missão na ilha de Butuan, perto da meia noite tocou o alarme porque o navio tinha pego fogo!

Trabalhei cinco anos em Ampére, dez anos em Toledo, dois anos em Nova Londrina, sempre preocupado com as construções. Em Ampére foi necessário ampliar o seminário; em Toledo e Nova Londrina, tendo que encontrar o terreno para depois construí-los. Foram centenas os adolescentes e jovens que encontrei, ajudando-os a escolher a vida religiosa, sacerdotal e missionária. Fui formador dos seminaristas menores e depois mestre dos noviços por nove anos (nove anos também nas Filipinas com o mesmo cargo). Assim como eu lembro as palavras e o jeito que tinham os meus formadores e mestres, tenho certeza que cada candidato, mesmo quem não perseverou, guardam lembranças das minhas palavras, do meu jeito, e das minhas atitudes. Ao mesmo tempo, quantos amigos, quantos benfeitores, quantos incentivadores e colaboradores encontrei no Brasil nos 17 anos. Na recente viagem por ocasião do Capitulo geral em Toledo, quantos destes encontrei, em Ampére, em Toledo, em Nova Londrina, no Rio de Janeiro e em Bom Jardim. Foi bom ver como tudo progrediu: cidades, nossos seminários e paróquias; as novas missões no Paraguai, no Mato Grosso, em São Paulo, no Paraná; quantos novos confrades que se juntaram aos da primeira época.

Frei Luigi com os primeiros noviços residentes em Nova Londrina (PR).

Diante de tudo isso brota do coração um profundo agradecimento que me faz lembrar o primeiro jornalzinho que comecei em Ampére, cujo título era “Graças a Deus”. Depois veio “Presença Agostiniana” que deu continuidade àquele impresso, alcançando as quatro mil copias. Estava em Nova Londrina quando em Roma estava se decidindo a abertura de uma nova missão na Ásia. Manifestei por escrito a minha disponibilidade, mas segurei o documento por nove dias debaixo da toalha do altar, celebrando a missa todos os dias. Depois da novena levei-o para o correio. Entre vários confrades que apresentaram o pedido eu fui o escolhido. Mais uma vez um pulo na escuro, mas já sabendo que não era no vazio. Num grupo de oração outros abriram a Bíblia, e não era minha, e a passagem doada foi o fim do capítulo anterior, daquela passagem de 17 anos antes, Ezequiel 11: “E a glória do Senhor parou no templo….” parou nas Filipinas sim, com o mesmo trabalho vocacional desenvolvido ao longo destes 23 anos, prestando serviço em dez comunidades e países diferentes, com confrades provenientes de outras nações: Filipinas, Vietnam. Myanmar, Indonésia, Índia, Nigéria; e “a glória do Senhor” será no templo de Aparecida com toda a Província Religiosa de Santa Rita dos Frades Agostinianos Descalços do Brasil celebrando em ação de graças pelos 70 anos. Deo Gratias et Mariae!

Frei Luigi Kerschbamer, oad

Revista Ide e Anunciai 13. Frei Rosario Palo, oad

Frei Rosario Cesiro Palo de São Nicolau

Frei Rosario Palo de São Nicolau de Tolentino (nome civil Cesiro Palo), nasceu em Ascoli Satriano (FO) no dia 19 de novembro de 1940, filho de Potito Palo e Maria Serafino. Na mesma cidade, na Igreja de São Potito Mártir recebeu os Sacramentos da Iniciação Cristã.

Entrou na Ordem no dia 12 de outubro de 1952, no Convento de Santa Maria della Verità, em Nápoles. No Convento S. Lorenzo Martire de Acquaviva Picena (AP), no dia 26 de setembro de 1957 iniciou o ano de noviciado e no dia 27 de setembro de 1958 emitiu a profissão simples. Como professo concluiu os estudos filosóficos em Roma, no Colégio dos Frades Carmelitas de S. Martino ai Monti. Emitiu a profissão solene no Convento de Santa Maria Nova, no dia 10 de setembro de 1964.

Fez os estudos teológicos em Nápoles no Colégio dos Frades Capuchinhos. Foi ordenado presbítero no dia 01 de março de 1969 na Igreja de Santo Efrem o Velho, em Nápoles.

Após os primeiros anos de sacerdócio vividos no Convento de S. Maria da Verdade em Nápoles, no dia 20 de maio de 1976 no navio “G. Marconi” partiu como missionário para o Brasil aonde chegou no dia 3 de junho. No Brasil trabalhou nas seguintes comunidades:

Ampére (PR): 1976-1978; 1980-1982; 1988-1992; 1999-2002.
Bom Jardim (RJ): 1978-1980; 1992-1994.
Formosa do Oeste (PR): 1982.
Ouro Verde do Oeste (PR): 1983-1985; 2002-2007.
Ramos/Rio de Janeiro (RJ): 1985-1988.
Salto do Lontra (PR): 1994-1999.
Nova Londrina (PR): 2008-2011.
Pavuna/Rio de Janeiro (RJ): 2012.
Pesaro – Itália: 2013-2014.

Foram 36 anos de dedicação à Ordem aqui no Brasil. Deixou marcas e boas recordações em todas as comunidades onde trabalhou, sempre como colaborador nas diversas paróquias. Com seu jeito simples e com sua oração cheia de fé, levou muitas pessoas à conversão e reconciliou muitos casais.

Em 2013 expressou o desejo de retornar à Itália para trabalhar na comunidade de Pesaro. Após alguns meses nesta cidade sofreu um acidente que o deixou em coma por mais de cinco meses. Veio a falecer no dia 07 de janeiro de 2014.

Revista Ide e Anunciai 12. Os Agostinianos Descalços em Ampére (PR)

A Ordem dos Agostinianos Descalços, com o desejo de abrir um campo vocacional, decidiu procurar no Sul do Brasil um bispo que a acolhesse. Após uma sondagem na região Sul, o bispo Dom Agostinho José Sartori a acolheu na Diocese de Palmas – Francisco Beltrão (PR).

Nossa história na paróquia Santa Teresinha de Ampére começou em 14 de março de 1976, quando Frei Antônio Desideri, Pároco e Frei Angelo Carù, Vigário paroquial e promotor vocacional foram recebidos pelo bispo diocesano e por toda a comunidade paroquial.

Portanto, se passaram 42 anos em que o carisma agostiniano descalço começou a se fazer presente nesta Diocese: “Servir ao Altíssimo em espírito de humildade”. Quantas coisas maravilhosas aconteceram na vida das pessoas através do anúncio da Palavra e nas celebrações dos sacramentos.

Ampére (PR),
1977.

Posse de Frei Antonio Desideri, 
14/03/1976.

Com muita determinação, fé e esperança, desde o início, os frades se empenharam no trabalho vocacional e na construção do Seminário. A primeira parte ficou pronta já em 1978, acolhendo 17 seminaristas. Frei Angelo foi escolhido como responsável para trabalhar na formação. O superior da delegação na época era Frei Luis Bernetti, que vendo o trabalho vocacional dando seus primeiros frutos, já pediu mais reforço pra Itália. Logo chegou da Itália para trabalhar na paróquia Frei Rosario Palo, e no seminário Frei Luigi Kerschbamer. Na sequência vieram outros para ajudar na formação dos futuros religiosos e sacerdotes brasileiros: Frei Calogero Carrubba, Frei Doriano Ceteroni, Frei Vicente Mandorlo, Frei Nicola Spera.

A semente lançada em 1978 foi crescendo aos poucos através de um trabalho árduo, até chegarem os primeiros frutos. A primeira turma de noviços vestiu o hábito religioso aos 04 de agosto de 1985, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida de Ouro Verde do Oeste (PR) e no ano seguinte, houve a primeira profissão simples na igreja matriz de Ampére. As primeiras profissões solenes ocorreram em 1991 no Rio Janeiro. Finalmente, as primeiras ordenações sacerdotais aconteceram em 1992, respectivamente Frei Moacir Chiodi aos 25 de janeiro em Pranchita (PR) e Frei Alvaro Antônio Agazzi, em 01 de fevereiro em Santa Izabel do Oeste (PR). Portanto, daquela primeira turma de seminaristas de 1978, até as primeiras ordenações se passaram 14 anos de muita luta dos frades italianos, mas finalmente o sonho de ver um brasileiro religioso e sacerdote agostiniano descalço estava realizado, e principalmente, estava chegando ajuda para tanto trabalho nas paróquias e nos seminários.

Inauguração da 2ª parte do Seminário Santo Agostinho, 
1980.

Com o passar dos anos a paróquia foi se organizando cada vez mais, aumentando o número das capelas, principalmente nos bairros da cidade de Ampére. Após sua chegada em março de 1976, os Agostinianos Descalços se preocuparam com a construção da igreja matriz e do Seminário Santo Agostinho. Em Ampére destacamos ainda a construção do Parque Santa Teresinha, da capela mortuária, do centro catequético, das oito capelas grandes e bonitas, algumas delas com seu salão e salas próprias para as atividades comunitárias. No interior, muitas capelas foram reformadas outras construídas, como também novos salões para facilitar o trabalho de evangelização acolhendo cada vez melhor o povo de Ampére e do Pinhal de São Bento.

 

Antigo grupo de seminaristas.

Antigo grupo de seminaristas.

Também se desenvolveu o campo pastoral com suas diversas atividades que, ao longo dos anos, foram se desenvolvendo e se aprimorando. Destacamos o excelente trabalho dos movimentos, da catequese, da liturgia, da pastoral da criança e da saúde na área social.

Juntamente ao desenvolvimento religioso, a Igreja favoreceu o progresso social e econômico dos dois municípios que compõem nossa paróquia. Na área social foi muito importante a construção das 58 casas da Vila Esperança, com a colaboração dos benfeitores da Itália, que hoje formam uma comunidade onde os frades celebram a missa semanalmente. Está sendo muito importante também o Projeto Luti, mantido pela ONG Amigos de Santo Agostinho de Pesaro e Torino, Itália, que se ocupa de adolescentes menos favorecidos, ajudando-os a um melhor desenvolvimento escolar e a uma melhor inserção no mundo do trabalho.

Lembramos também a presença, em 1989, por um curto período de tempo, dos Agostinianos Descalços na paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Pranchita, quando aquela comunidade ficou sem seu pároco.

Seminário Santo Agostinho, 
2018.

Sem dúvida, nestes 42 anos de presença da Ordem na paróquia Santa Teresinha e Santo Agostinho e 40 anos de atividade vocacional do Seminário Santo Agostinho, foram criados laços de profunda espiritualidade agostiniana com o povo. Podemos dizer que tudo valeu a pena, porque foi e está sendo uma obra de Deus. Acredito que tudo deu certo também, porque o alicerce foi bom e firme, ou seja, os primeiros padres que aqui trabalharam deram o sangue por esta obra, lembro especialmente, Frei Angelo Caru, seu entusiasmo, seu amor, seu incansável trabalho pelas vocações. E quando um trabalho começa bem, tem grande chance de dar certo. Todos os que se seguiram deram sua contribuição generosa e importante para o prosseguimento da obra.

Exterior da Igreja Matriz.

Interior da Igreja Matriz.

Por fim, agradecemos a intercessão de Nossa Senhora de Lourdes, venerada na gruta de nosso seminário, ela que sempre nos acompanhou com sua maternal proteção. Agradecemos a Deus por tudo o que foi realizado até o momento e pedimos que Ele continue abençoando as famílias, os religiosos e sacerdotes, para que juntos anunciemos o Reino de Deus, e que, haja sempre adolescentes e jovens dóceis ao chamado de Deus à vida sacerdotal e religiosa.

Frei Álvaro Antonio Agazzi, oad


Os Agostinianos Descalços em Salto do Lontra (PR)

Dom Agostinho José Sartori pediu encarecidamente que os Frades de Ampére assumissem provisoriamente a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Salto do Lontra (PR), pois ele não tinha padre disponível pra trabalhar lá. Por isso, para atender o Bispo que com tanto carinho nos tinha recebido na Diocese, Frei Angelo Carù, assumiu a paróquia, rezando sua primeira missa, no dia 03 de maio de 1980. Após a saída do Frei Angelo assumiu como pároco Frei Calogero Carrubba, que trabalhou até 1995, quando lhe sucedeu Frei Estevão José da Cunha. O último pároco agostiniano descalço foi Frei Valdir Pinto Ribeiro. Assim o que era para ser provisório, durou aproximadamente 20 anos. Destacamos neste período a construção da atual igreja matriz, e a ampliação da casa paroquial. Muitos frutos vocacionais surgiram do trabalho dos nossos frades em Salto do Lontra. A paróquia muito contribuiu com a manutenção do seminário Santo Agostinho de Ampére.

Os Agostinianos Descalços em Salgado Filho (PR)

Em 2011 Dom José Antônio Peruzzo, Bispo de Palmas – Francisco Beltrão, pediu ao Provincial Frei Alvaro Antônio Agazzi, para a Ordem assumir a Paróquia São Francisco de Assis em Salgado Filho e Manfrinópolis, pois os Missionários do Sagrado Coração estavam deixando. A resposta foi afirmativa. Frei Osmar Antônio Ferreira foi empossado como pároco no dia 04 de outubro de 2011, dia do padroeiro. Sucedeu-lhe Frei Mikael Mezzomo, aos 31 de janeiro de 2015. Em 2017 começou, com a intensa colaboração da comunidade, uma reforma geral da igreja matriz.

Revista Ide e Anunciai: 11. Frei Angelo Caru

Frei Angelo Carù de Jesus Crucificado

Frei Angelo foi um religioso e sacerdote exemplar. Deixou-nos exemplos em todas as virtudes. Sua garra, sua determinação, sua paixão pelas vocações, seu amor a Jesus Cristo e a Nossa Senhora, vão ficar pra sempre marcados na mente de quem o conheceu. No Rio de Janeiro é conhecido como Frei Possídio. Ele está sepultado na capela dos Agostinianos Descalços no Cemitério Municipal de Ampére (PR).

 

 

 

 


Mestre dos Seminaristas na Itália

Desde os primeiros anos do seu sacerdócio, Frei Angelo trabalhou em prol das vocações. Na Itália, foi mestre dos seminaristas em Scoffera (1951 a 1961) e em Genova (1961 a 1964); também foi mestre dos noviços em Marsala (1964 a 1966). Aos 18 de março de 1966, partiu de navio para o Brasil. Sua grande paixão foram sempre as vocações sacerdotais e religiosas. Também sua irmã, Stefania Carù, é freira das irmãs da Caridade da Santa Cruz.

Ramos/Rio de Janeiro (RJ)

Frei Angelo trabalhou em Ramos, Rio de Janeiro (RJ), os períodos de 1966-68 e 1973-76. Em todos os lugares onde trabalhou tinha um carinho todo especial pelos doentes, como destacou o casal Orlandino e Lucy Bonacorso: “Por ele tenho muita gratidão e carinho pois sempre que podia visitava meus pais e rezava com eles. Era sempre uma visita prazerosa para todos nós, pois tratava-se de um Anjo que o Senhor enviava à nossa família. Meus pais lhe queriam muito bem. Quando minha mãezinha adoeceu ele se fez mais frequente em suas visitas, com orações e bênçãos. De volta para a Igreja, no caminho, visitava doentes da comunidade de Nossa Senhora Aparecida da Praia de Ramos”.

Frei Angelo em Ramos/Rio de Janeiro (RJ).

Bom Jardim (RJ)

Frei Angelo trabalhou em Bom Jardim (RJ) de 1968 a 1973. Com muita dedicação ajudava os demais religiosos em tudo o que lhe era pedido. Seu desapego sempre foi sua marca registrada, é o que testemunham Adalton e Ângela Carriello: “Era extremamente humilde e de coração puro. Viveu a pobreza conforme os votos e obedeceu fielmente a sua consciência, não se deixando, jamais, tentar pelos prazeres do conforto que o mundo oferece e até privando-se da boa mesa e do agasalho.

Não conheceu a vaidade e a cobiça. Nada era seu, tudo era para os outros, sendo capaz de doar até seus pertences. Seu semblante era suave e transparente como a sua alma”.

Em Salto do Lontra (PR)

O Frei Angelo celebrou a primeira missa como pároco em Salto do Lontra aos 03 de maio de 1980, como ele próprio relata no Livro Tombo: “03 de maio 1980 – O Frei Angelo às 17h celebrava a sua primeira S. Missa, como Vigário Interino, na Paróquia do Salto do Lontra, iniciando assim o seu apostolado aqui com a bênção do Sr. Bispo Diocesano”.
Dois anos depois iniciou a construção da atual igreja matriz: “24 de maio de 1982 – Hoje iniciam os trabalhos da construção da nova matriz aqui no Salto do Lontra. Na celebração da S. Missa se fez particular pedido pela obra a construir e pela proteção dos trabalhadores”.

Foram anos de intensas atividades apostólicas. Por exemplo: “20 de setembro 1983 – Fui na comunidade de São Pio X para a bênção das casas iniciei às 8:30 da manhã e fui acabando às 21:30h da noite, passando em 86 famílias. A impressão foi de uma comunidade boa, pobre, humilde”. Assim ele fez em tantas outras comunidades.

Neste período (7 anos e 10 meses) foram realizados aproximadamente 3.570 batizados, 2.904 primeiras comunhões, 1.194 casamentos e 2.198 crismas. Muitas foram as capelas construídas, os barracões, as comunidades novas em escolinhas e uma nova capela na cidade. Uma das celebrações que com certeza mais agradou o Frei Angelo foi a vestição religiosa de 17 seminaristas agostinianos descalços realizada no dia 01 de fevereiro de 1987, já na igreja matriz, ainda por terminar.

Suas últimas linhas registradas no livro Tombo: “03 de março de 1988 – Hoje à tarde acabou a visita programada a todas as comunidades e escolinhas da paróquia. O tempo permitiu completar todo o roteiro. O povo em geral participou numeroso testemunhando o carinho e a saudade do povo. Vários presentes o padre ganhou do povo… Os trabalhos da nova matriz estão continuando… Deixo a paróquia depois de 7 anos e 10 meses agradecendo a Deus e a N. Sra. Aparecida por tudo aquilo que conseguiu-se realizar para a glória de Deus e o bem do povo. Deo Gratia et Mariae. Frei Angelo Carú OAD” (Informações obtidas do Livro Tombo da paróquia de Salto do Lontra, Livro 1, pág. 47 – 96v).

Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida, Salto do Lontra (PR).

Toledo (PR)

Frei Angelo fez parte da comunidade Santa Mônica de Toledo de 1988 a 1995. Neste período, exerceu várias funções: Pároco da paróquia N. Sra. Aparecida de Ouro Verde do Oeste; Mestre dos professos; Prior da comunidade e superior Delegado da Delegação brasileira. Aos 03 de outubro de 1982 Frei Angelo foi para Itália para fazer uma arrecadação, como ele mesmo relata: “O pároco vai para Itália para arrecadar fundos para custear a construção da casa de noviciado da sua Ordem em Toledo. Em sua ausência, virão aos sábados e domingos e quando precisar, os padres de Ampére” (Livro Tombo da paróquia de Salto do Lontra, pág. 69v). Assim também aconteceu com o seminário de Ampére, de Nova Londrina, do Rio de Janeiro. Suas viagens pra Itália eram providenciais e se tornaram fundamentais para a construção desses seminários.

Frei Angelo e Frei Doriano com um grupo de Seminaristas, Toledo (PR).

Ouro Verde do Oeste (PR)

Frei Angelo foi pároco de Ouro Verde do Oeste, por mais de sete anos, desde o início de 1988, como ele mesmo escreve no livro tombo: “Aos 14 dias do mês de fevereiro, do ano mariano de 1988, tomei posse na paróquia N. Sra. Aparecida, na presença do Sr. Bispo Diocesano Dom Lúcio Ignácio Baungartner, demais sacerdotes e do povo da comunidade cristã de Ouro Verde”. Frei Angelo deu continuidade ao projeto da construção da torre da igreja matriz: “10 de abril de 1988 – Inicia-se neste mês a construção da nova torre da igreja matriz. Será um monumento de fé e união da comunidade e uma lembrança perene do ano mariano que estamos celebrando. Será também uma lembrança viva do amor, da dedicação do Frei Luis Bernetti que guiou a paróquia com sabedoria e amor por cinco anos”. A torre foi inaugurada no dia 24 de julho de 1988, durante a festa de São Cristóvão.

Enquanto era pároco de Ouro Verde, Frei Angelo ajudava no Seminário Santa Mônica de Toledo, sendo Mestre dos professos e também superior Delegado do Brasil. Neste período foram realizados em Ouro Verde, 1.063 batizados, 786 primeiras comunhões, 932 crismas e 327 casamentos.

Seu último dia como pároco de Ouro Verde foi dia 23 de maio de 1995, quando voltou para casa do Pai. Morreu quando se dirigia a Ouro Verde para celebrar a santa missa. Como falou Dom Agostinho José Sartori, na missa de exéquias, “morreu como um verdadeiro soldado, em campo de batalha”.

1ª Comunhão de Frei Osmar Ferreira, Ouro Verde do Oeste (PR),
1991.

Nova Londrina (PR)

Frei Angelo não morou em Nova Londrina (PR), mas muito trabalhou para ajudar a construir aquele seminário e como Superior do Brasil (1991 – 1995), fez muitas visitas àquela comunidade, que por muitos anos foi sede de noviciado aqui no Brasil. Os Agostinianos Descalços, marcaram presença naquela comunidade desde a chegada do Frei Vicente Mario Sorce, em 1978. No início de 1993, mesmo sem o seminário estar pronto, instalou-se na casa paroquial, a primeira turma de noviços. No ano seguinte foi inaugurado o novo seminário.

Seminário Nossa Senhora da Consolação, Nova Londrina (PR).

Devoção à Virgem Maria

Ambos os Bispos, de Toledo e de Palmas, por ocasião do funeral do Frei Ângelo, salientaram a devoção do Frei Angelo pela Virgem Maria, lembrando que ele sempre encerrava as celebrações com o canto “Dai-nos a benção, ó mãe querida, Nossa Senhora Aparecida”. Dom Agostinho, de Palmas, foi ainda mais enfático ao dizer: “…creio que ele mantinha colóquios espirituais com a Virgem, por causa do modo que lhe era devoto”. Em suas viagens, com seu fusquinha, de Ampére a Toledo, de Toledo a Nova Londrina nunca se contentava em rezar apenas um terço, seguidos de cânticos dedicados a Nossa Senhora, é o que testemunham todos os que viajavam com ele.

Peregrinação ao Santuário de Santa Izabel do Oeste (PR),
1991.

Missionário Incansável

Dom Clemente José Carlos Isnard, Bispo Emérito de Nova Friburgo (RJ), na visita pastoral que fez na paróquia de Santa Rita de Euclidelândia, depois que Frei Angelo tinha saído há bastante tempo, disse a um religioso da Ordem: “Frei Angelo foi um verdadeiro missionário. Ainda se percebem em todas as comunidades da paróquia as marcas de sua presença”.Sobre sua alma missionária testemunha Frei Eugênio Cavallari, Prior Geral de 1987 a 1999: “A sua decisão de partir para o Brasil era de fato em consonância com o endereço pastoral e espiritual de sua vida. Ele era um missionário nato, feito para as situações “de fronteira”, para abrir novos horizontes e novos espaços para nossa Ordem”.Dom Agostinho falando do Frei Angelo elogiou o seu zelo apostólico consciente das necessidades da Igreja “que iria dar início a uma nova missão no longínquo Mato Grosso, onde seu zelo missionário e apostólico fez sentir a falta de sacerdotes”. No dia 06 de fevereiro de 2011, Dom Gentil de Lazari, da Diocese de Sinop, acolheu os Agostinianos Descalços em sua Diocese, entregando-lhes a Paróquia Papa João XXXIII de Colider (MT). Realizou-se assim, depois de 16 anos, o sonho missionário do Frei Angelo. Em dezembro de 2015 foi erigida a comunidade Frei Angelo Carù que, em fevereiro de 2016, assumiu a paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Nova Ubiratã (MT).

Encontro Vocacional, Lucas do Rio Verde (MT).

Nosso querido avô

Nos últimos anos da vida do Frei Angelo, o chamávamos carinhosamente de “Avô”. De fato ele se questionava: “Será possível que vamos morrer sem deixar filhos e netos?” Convidava, insistia, ia buscar os vocacionados em casa. Nada era empecilho para ele conquistar uma vocação. Muitos dos seminaristas testemunham que sua vocação nasceu após o convite do Frei Angelo, que com seu entusiasmo, também foi o motivo da perseverança. Sua maior alegria nesta terra era participar das celebrações vocacionais: vestição, profissão dos votos e ordenações diaconais e sacerdotais.

Encontro com o papa João Paulo II,
1992.

O Amigo dos Pobres

Para finalizar este artigo, trazemos o testemunho de Dom Luis Bernetti, confrade e grande amigo do Frei Angelo.“Como sacerdote, era o “nosso Frei Angelo”. Indiscutivelmente exerceu seu ministério, santificando o povo de Deus. Com pequenos gestos, como ficar na porta da Igreja cumprimentando os adultos e brincando com as crianças, ou repartindo seu alimento com as crianças da rua, ele edificava o seu rebanho. O entusiasmo ao celebrar a Santa Missa, ele fazia com que os fiéis se empolgassem, e os incrédulos, no mínimo se questionassem… Por isso quero apenas lembrar alguns episódios que poderia chamar “Fioretti do Frei Ângelo”: Em Bom Jardim, estado do Rio de Janeiro, no tempo de inverno, por estar a cidade a uma boa altura do nível do mar, o frio se faz sentir bem, sobretudo na madrugada e nas primeiras horas do dia. Meu quarto ficava na frete do único banheiro da casa. Uma noite escutei quando o Frei Ângelo se levantou, pois era sempre o primeiro e logo ia à Igreja. Pouco tempo depois de ele ter saído, escutei um barulho, eram os passos dele, que porém não estava sozinho. Algo estava acontecendo, mas não levantei para ver porque o calor dos cobertores falaram mais forte da curiosidade.  Mais tarde, na hora do café perguntei: “Frei Ângelo, que aconteceu hoje de manhã, que você voltou em casa e fez barulho?”  Não aconteceu nada não, respondeu, mas com um tom de voz que não convencia. Depois disse: quando cheguei na Igreja, encontrei em frente da porta da entrada um mendigo dormindo. Trouxe-o em casa, dei-lhe banho, dei-lhe vestes, porque as que usava eram todas rasgadas, e ofereci café.Outra vez, Frei Ângelo foi visitar o Pe. André Boaventura pároco de Cordeiro. Este padre tinha recebido algumas caixas de remédios e nas caixas com os remédios havia também outras coisas e algumas camisas. O padre deu de presente uma bela camisa ao Frei Ângelo que a recebeu com muito prazer e agradeceu. No caminho de volta, encontrou um casal de velhinhos a pé, parou perguntou onde iam e deu carona, na hora de deixá-los pegou a camisa e a deu ao velhinho”.

Revista Ide e Anunciai: 10. Frei Antonio Desideri

Frei Antonio Desideri do Sagrado Coração de Maria

Frei Antonio nasceu no dia 05 de março de 1938, em Monsampolo del Tronto (AP), na Itália, filho de Francesco Desideri e Annunziata Domizi. Entrou na Ordem no dia 20 de outubro de 1950 no Convento São Lorenzo Martire, em Acquaviva Picena, na então Província Ferrarese-Picena. Fez a profissão solene no Convento Madonna della Misericordia em Fermo no dia 04 de outubro de 1959. Em Roma fez os estudos teológicos até o mestrado na Pontifícia Universidade Gregoriana de 1961 a 1965. Foi ordenado Diácono em Roma no dia 29 de novembro de 1964 e Presbítero em Acquaviva Picena no dia 06 de março de 1965 na igreja do Convento São Lorenzo Martire, pelas mãos de Dom Gaetano Michetti. Chegou ao Brasil aos 12 de abril de 1967, com apenas dois anos de sacerdócio. Até o final de sua vida pertenceu à província do Brasil. Nos 48 anos que fez parte desta Delegação e Província ficou fora do Brasil somente os seis anos em Roma como Prior geral, e os três anos em Pesaro. Os demais 39 anos dedicados ao Brasil.

Após os dois primeiros anos de sacerdócio no Convento Santa Maria dell’Itria em Marsala, onde foi mestre dos postulantes e professor de ensino religioso, no dia 11 de abril de 1967, partiu como missionário para o Brasil. Ocupou cargos de relevante responsabilidade seja dentro que fora da Ordem. Foi Prior nas comunidades: Imaculada Conceição em Bom Jardim (1973-1976; 1988-1999), Santa Rita em Ramos – Rio de Janeiro (1982-1988), Santo Agostinho em Pesaro (2009-2012). Foi superior Delegado do Brasil duas vezes (1988-1991; 1996-1999), Conselheiro Comissarial da Província do Brasil (2006-2009) e Prior geral (1999-2005), eleito no 75° Capítulo geral da Ordem. Dentro da Ordem foi ainda, por alguns mandatos, ecônomo local e várias vezes Deputado aos Capítulos gerais e comissariais. Trabalhou no Colégio Santo Agostinho em Bom Jardim como professor e como responsável, para isso conseguiu a licenciatura em Ciências Sociais, na Faculdade de Filosofia Santa Doroteia, em Nova Friburgo (RJ). Em seu trabalho pastoral foi Vigário paroquial nas paróquias N. S. da Conceição, em Bom Jardim (RJ) (1967-1973) e Santa Rita dos Impossíveis, no Rio de Janeiro (RJ) (2012-2015); Pároco nas paróquias São José do Ribeirão, em Bom Jardim (RJ) (1973-1976), Santa Teresinha e Santo Agostinho, em Ampére (PR) (1976-1982), Santa Rita dos Impossíveis, no Rio de Janeiro (RJ) (1982-1988), N. S. da Conceição, em Bom Jardim (RJ) (1988-1999), Santo Antônio, em Ourinhos (SP) (2006-2009) e Santo Agostinho, em Pesaro (Itália) (2009-2012); Vigário Forâneo na Diocese de Palmas – Francisco Beltrão (1976-1982) e na Arquidiocese do Rio de Janeiro (1982-1988); Vigário Episcopal na Diocese de Nova Friburgo (1988-1999).

Frei Antonio foi um religioso de vida simples e sóbria, de sorriso cativante, e homem de oração. Profundamente convicto da beleza da vocação religiosa e sacerdotal se doou completamente para a realização do projeto do Reino. Dotado de uma inteligência acima da média e de uma ferrenha vontade, nas escolhas que fazia não descia a compromissos quando se tratava de princípios e valores humanos e cristãos. Sabia como ninguém amaciar o impacto dos “nãos” que dizia, com responsabilidade, com a doçura das palavras. Nos vários cargos de responsabilidade que exerceu, teve sempre a coragem de tomar decisões difíceis, mesmo quando essas não eram aceitas, assumindo em primeira pessoa as consequências das mesmas. Era de conhecimento de todos o seu apego ao Brasil, terra que adotou como sua e da qual foi retribuído com uma acolhida sincera e generosa. No Brasil viveu um fecundo ministério sacerdotal dando testemunho de vida religiosa; cultivou e partilhou o valor da amizade e obteve o respeito também de quem não comungava das mesmas ideias e projetos. Nos últimos tempos sofria de perda de memória e tinha dificuldade de orientação, mas nada que fizesse pensar ao rápido declínio dos últimos dias. Havia retornado à Itália para festejar com os familiares e os confrades o 50° de ordenação presbiteral. Presidiu a solene celebração, na igreja de S. Lorenzo Martire, no domingo 15 de março circundado dos irmãos e irmãs, parentes e tantos amigos. Quis a Providência que terminasse a sua peregrinação no mesmo convento que o vira nascer à vida religiosa e ao sacerdócio, no dia 19 de março de 2015, poucos dias depois de completar 50 anos de sacerdócio.

Veja sua trajetória…

Bom Jardim (RJ): 1967 a 1976.
Ampére (PR): 1976 a 1982.
Ramos/Rio de Janeiro (RJ): 1982 a 1988.
Bom Jardim (RJ): 1988 a 1999.
Roma – Itália: 1999 a 2005.
Ourinhos (SP): 2006 a 2009.
Pesaro – Itália: 2009 a 2012.
Ramos/Rio de Janeiro (RJ): 2012 a 2015.

Revista Ide e Anunciai 9. Os Agostinianos Descalços em Bom Jardim (RJ)

Desde 1961, na pessoa do Frei Francisco Spoto, os Agostinianos Descalços, marcaram presença no município de Bom Jardim (RJ). De fato, aos 08 de setembro, Dom Clemente José Carlos Isnard, deu posse a Frei Francisco, na paróquia São José, do Distrito São José do Ribeirão, pertencente ao município de Bom Jardim.

Nesta pequena paróquia de interior, Frei Francisco visitava as várias capelas a cavalo. Como um verdadeiro desbravador, começou, com a cara e a coragem, como ele mesmo disse, um “pré-seminário” agostiniano descalço. Era uma espécie de educandário, onde somente meninos, viviam com o intuíto de estudar, e caso apresentassem sinais de vocação, seriam encaminhados para que esta sementinha pudesse se desenvolver. As dificuldades eram imensas, de todos os tipos, desde o frio, a falta de alimentos, e principalmente, a falta de religiosos para o ajudar.

Com certeza todo este esforço, foi recompensado anos mais tarde, como ele mesmo pôde ver, antes de retornar para a Itália, em 1983, a realidade florescente, do Seminário Santo Agostinho de Ampére e o início do Seminário Santa Mônica em Toledo. Hoje, podemos dizer, ao nosso querido Frei Francisco Spoto, que nos acompanha do céu, obrigado, por este exemplo, de heroísmo, de amor à Ordem e ao povo brasileiro.

Depois desta primeira experiência, em São José do Ribeirão, em 1964, o Frei Francisco Spoto começou a atender a paróquia Nossa Senhora da Conceição, sede do município de Bom Jardim. Neste período o Sr. Péricles Corrêa da Rocha, doou uma área para a construção de um futuro seminário, disponibilizando uma casa, onde os frades poderiam começar, já imediatamente o aspirantado. O capítulo da comunidade do Rio de Janeiro, aos 22 de julho de 1966, com a presença do Prior Geral, Frei Gabriel Marinucci, decidiu aceitar tal doação, e iniciar o tão sonhado seminário. Em Roma, o Definitório geral deu parecer favorável aos 21 de setembro de 1966, nomeando Frei Luis Bernettti, mestre dos aspirantes. Mas, apesar da boa vontade de todos, o projeto não saiu do papel. Nesta época Frei Francisco foi nomeado superior Delegado para o Brasil.

Vista Aérea Colégio Santo Agostinho, Bom Jardim (RJ),
2018.

Em 1966 chegou no Brasil Frei Angelo Possídio Carú, e no ano seguinte Frei Antonio Desideri. Em 1970, a comunidade de Bom Jardim era formada por Frei Francisco Spoto, Frei Angelo Possidio Carù, Frei Luis Bernetti e Frei Antonio Desideri. Com toda esta energia para trabalhar, um ano depois, aos 05 de março de 1971 foi inaugurada a primeira parte do Colégio Santo Agostinho, que na época se chamava ainda Ginásio Bom Jardim. Dando um passo atrás na história, é interessante ressaltar que o Colégio Santo Agostinho é uma continuidade do Ginásio Bom Jardim, que, em 1965, foi entregue à Associação Socia Agostiniana, para que esta o administrasse. A mudança de nome ocorreu solenemente em 1978, ano em que o Colégio passava a oferecer também o segundo grau, hoje ensino médio. Com o aumento de alunos, o colégio foi ampliado em 1975.

O projeto do colégio ia de vento em popa, mas o sonho de um seminário em Bom Jardim não decolou naquela época. Os frades Agostinianos Descalços, além de auxiliar no colégio e cuidar da paróquia de Bom Jardim, prestaram serviço também em outras paróquias da região, tais como, Duas Barras, Euclidelândia, Macuco, Cordeiro, Cantagalo, São José do Ribeirão.
O colégio estava caminhando bem, até que chegou o momento da crise, em 1990. O diretor Clirton Rêgo Cabral, depois de 22 anos, à frente do colégio, deixou a direção e fundou seu próprio colégio. Este fato muito enfraqueceu o colegio Santo Agostinho. No ano seguinte, assumiu o Colégio a diretora Maria Augusta Gonçalves Vieira, que com o apoio do Frei Antonio Desideri, com sérias dificuldades, conduziu o colégio por 15 anos. Em 2006, Frei Jurandir de Freitas Silveira, assumiu como diretor do colégio, e aos poucos, com a ajuda dos demais frades, o colégio foi se reerguendo novamente. Em 2013, Frei Alex Sandro Rodrigues, assumiu a direção do colégio, que até o presente conta com uma média de 450 alunos.
Um acontecimento de grande importância para a paróquia de Bom jardim, que se deu no dia 17 de agosto de 1974, foi a ordenação sacerdotal do Frei Antonio Giuliani, pela imposição das mãos de Dom Clemente Carlos Isnard, bispo de Nova Friburgo (RJ). Frei Antonio tinha vindo para o Brasil, em 1970, juntamente com seu colega de estudo, Salvatore La Porta, que não chegou à meta do sacerdócio.

Em 1994, os frades Agostinianos Descalços perceberam a necessidade de ter um seminário menor no estado do Rio de Janeiro, devido ao aumento de vocacionados da região e as distâncias para enviar esses vocacionados até Toledo (PR). Decidiram então, ampliar o Colégio Santo Agostinho, para ali acolher os seminaristas menores da região. Aos 05 de fevereiro de 1995, o sonho tão esperado de um seminário em Bom Jardim, se tornou realidade. A nova casa acolheu naquele dia seus primeiros 13 seminaristas. Por um curto período de tempo, em 1997, este seminário acolheu os professos, estudantes de filosofia, que cursaram o primeiro semestre no Seminário Diocesano de Nova Friburgo e o segundo semestre no próprio seminário em Bom Jardim. A partir de 1999, o curso de filosofia transferiu-se para Ourinhos (SP), continuando em Bom Jardim somente o seminário menor, que durou por mais de 12 anos.

Quanto à paróquia, destacamos a reforma geral da igreja iniciada em fevereiro de 1998, por Frei Antonio Desideri, que em julho de 1999, foi eleito Prior geral, e deixou a paróquia aos cuidados do Frei Eugenio Del Medico que, com muita competência, auxiliado pelo professor Adalton José Cariello, levou a termo a obra da Igreja, inaugurada aos 07 de dezembro de 2000.

 

Igreja antiga e nova de Bom Jardim (RJ).

Tantos fatos importantes marcaram essa bela história, como, a ordenação sacerdotal do Frei Antônio Carlos Ribeiro, natural de Bom Jardim, e Frei Franisco Luiz Ferreira, aos 21 de dezembro de 2002. Alguns anos depois, aos 07 de junho de 2008, foi a vez da ordenação sacerdotal de Frei José Arnaldo Schott, natural de São José do Ribeirão. Tantas outras celebrações vocacionais de vestição, profissão simples e profissão solene fizeram parte da presença OAD em Bom Jardim.

Em 2012, a paróquia viveu um momento único, com a celebração dos 100 anos de fundação, no dia 03 de dezembro.
Mais recentemente, em 2016, foi iniciada a construção, do centro de pastoral, pelo pároco Frei César Gonçalves, dando continuidade no projeto deixado por Frei Getúlio Freire Pereira. Trata-se de uma construção de 04 pisos, com salas para a catequese, as reuniões, as festas da comunidade e salas para alugar.

Além dos párocos, diretores do Colégio Santo Agostinho, tantos outros frades atuaram em Bom Jardim, como mestres dos seminaristas e professos, e como vigários paroquiais: Frei Valdir Pinto Ribeiro, Frei Cézar Fontana, Frei Cézar Poggere, Frei Marcos Mezzalira, Frei João Batista da Paixão, Frei Vilmar Potrick, Frei Adalmir de Oliveira, Frei Euclides Faller Machado, Frei Joacir Chiodi, Frei Salésio Kriger, Frei Sidney Guerino Rufatto, Frei Márcio dos Santos Silva, Frei Diego Santos de Souza, Frei Alciney de Freitas Martins, Frei João Paulo da Silva.

Não poderíamos deixar de mencionar o retorno a Bom Jardim, do Dom Frei Luis Bernetti, aos dez de janeiro de 2010. Depois de servir a Ordem pelo Brasil a fora, de servir a Diocese de Palmas e Francisco Beltrão, como Bispo auxiliar, e a Diocese de Apucarana, como Bispo titular, ele retornou à sua familia religiosa, nesta comunidade onde dedicou boa parte da sua juventude. Como uma vela ele foi se deixando consumir para iluminar o povo de Deus. Assim passou seus últimos sete anos, com o mal de Alzeimer, esquecendo tudo aquilo que fez, que viveu, uma vida inteira dedicada à Ordem e à Igreja. Ele esqueceu, mas nós não o esqueceremos.

São 57 anos de presença OAD na região de Bom Jardim, dos quais 54 na paróquia Nossa Senhora da Conceição. Em todos estes anos pode-se imaginar quantos batizados, casamentos, celebrações, quanta dedicação na construção e na manutenção do Colégio. Quanto esforço para abrir e manter o Seminário, o curso de filosofia. Quanta história tem-se para contar, quantas alegrias e tristezas vividas junto com o povo, quantas vitórias e derrotas, enfim quantas conquistas.

CRIAÇÃO DA PARÓQUIA: 3/12/1912: PÁROCOS

1. Pe. Antônio Alves Mendes (1912-1916).
2. Pe. Carlos Rodrigues Sobreira (1916-1933).
3. Pe. Luiz Arnaud (1933-1939).
4. Pe. Jorge dos Reis Santos (1939-1964).
5. Frei Francisco Spoto (1964-1981).
6. Frei Antonio Giuliani (1981-1988).
7. Frei Antonio Desideri (1988-1999).
8. Frei Eugenio Del Medico (1999-2005).
9. Frei Edson Marcos Minski (2005-2006).
10. Frei Getúlio Freire Pereira (2006-2011).
11. Frei Gelson Briedis (2011-2013).
12. Frei César de Souza Gonçalves (2013-…).

Revista Ide e Anunciai: 8. Dom Frei Luigi Vincenzo Bernetti

Dom Frei Luigi Vincenzo Bernetti dos Sagrados Corações

Dom Frei Luigi Vincenzo Bernetti (Frei Luís Vicente Bernetti) OAD, Bispo emérito de Apucarana (PR), nasceu na Itália, aos 24 de março de 1934, filho do casal Oreste Bernetti e Elvira Damiani. Com apenas 10 anos de idade, coisa normal naquele tempo, ingressou no seminário dos Frades Agostinianos Descalços.

Aos 15 de agosto de 1950 vestiu o hábito religioso dos Agostinianos Descalços, dando início ao ano de noviciado. Aos 28 de agosto de 1951 fez sua Profissão dos votos simples; e aos 23 de março de 1955 emitiu sua Profissão Solene. Foi ordenado diácono aos 30 de novembro de 1957; foi ordenado sacerdote a 01 de junho de 1958, em Fermo sua cidade natal, com apenas 24 anos de idade, por Dom Norberto Perini, arcebispo arquidiocesano. Por um curto período de tempo foi Mestre dos seminaristas, em Fermo, no mesmo seminário onde ele havia ingressado.

Com menos de três anos de sacerdócio, optou por dar sua disponibilidade para ser missionário no Brasil e, recebido o consentimento dos superiores, enfrentou sua viagem de navio chegando no Brasil aos 21 de março de 1961. A partir daí iniciou sua aventura missionária. Seu primeiro campo de trabalho foi a Paróquia Santa Rita dos Impossíveis, no bairro de Ramos, no Rio de Janeiro, até então a única comunidade dos Agostinianos Descalços em terra brasileira.

Mais tarde foi transferido para a Comunidade Nossa Senhora da Conceição, em Bom Jardim (RJ), a segunda constituída no Brasil, na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, colaborando como Vigário Paroquial na Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Cursou a Faculdade das Irmãs Dorotéias, em Nova Friburgo (RJ), formando-se em Pedagogia para poder lecionar no nosso Colégio Santo Agostinho de Bom Jardim (RJ). Nos anos seguintes, naquela comunidade, sem deixar de lado as atividades pastorais em diferentes paróquias e o Curso na Faculdade de Nova Friburgo, se juntou aos confrades para a realização do sonho de ter o primeiro seminário da Ordem no Brasil, que na verdade resultou no Colégio Santo Agostinho. Na hora da construção não poupou esforços, pondo literalmente as mãos na massa, sujeitando-se a qualquer tipo de trabalho.

Frei Luigi Vincenzo Bernetti

Em 1971 foi designado como Pároco da Paróquia Santa Rita dos Impossíveis, em Ramos, no Rio de Janeiro (RJ). Foi o idealizador e o construtor da atual igreja Santa Rita dos Impossíveis, cuja edificação iniciou-se em 1975 e concluiu-se em 1981, quando foi consagrada pelo Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro, aos 22 de maio de 1981, festa da Santa padroeira.

Em 1982 foi transferido para o Paraná na recém constituída Comunidade Santa Mônica, no município de Toledo (PR). Por um ano atendeu a Paróquia Santo Antônio, em Formosa do Oeste (PR). A partir de 1983 exerceu seu ministério como pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida de Ouro Verde do Oeste (PR), que ficava mais próxima de Toledo, onde acompanhava a construção do Seminário Santa Mônica.

De 1988 a 1993 foi Mestre dos estudantes de filosofia e teologia no Seminário Santa Rita no Rio de Janeiro. No dia 05 de fevereiro de 1994 tomou posse na Paróquia Santa Teresinha e Santo Agostinho de Ampére, cargo que exerceu até sua ordenação episcopal como Bispo Auxiliar de Palmas e Francisco Beltrão, dia 25 de agosto de 1996.

Frei Antonio Desideri e Frei Luigi Bernetti

Batismo de Frei Marcio dos Santos Silva, Rio de Janeiro (RJ),
22/10/1978

Enfim, Dom Luís serviu a Ordem em tudo aquilo que lhe foi pedido: foi Superior Regional da Delegação do Brasil de 1976 a 1988 e de 1995 a 1996 quando chegou sua nomeação episcopal. Exerceu o cargo de Prior em várias comunidades locais. Foi Vigário paroquial e Pároco em diferentes paróquias, foi Mestre dos seminaristas e também Mestre dos jovens religiosos. Acompanhou com muita competência a construção da Matriz da Paróquia Santa Rita no Rio de Janeiro, bem como a construção do Seminário Santa Mônica em Toledo e ajudou também nas demais obras da nossa Província. Soube ser arquiteto e também ajudante de pedreiro, assim como soube ser Vigário paroquial e Pároco, soube ser Bispo Auxiliar e também Bispo Diocesano de Apucarana. Tudo realizou com muito amor e humildade, demonstrando em tudo muita serenidade, simplicidade e sabedoria.

Por onde passou deixou as marcas registradas de seu temperamento e de seu jeito de ser: amor à Igreja e à sua família religiosa, simplicidade, humildade, dedicação e serviço. É dele uma expressão que ficou famosa a respeito da nossa Ordem: “Ela não é a maior família, nem a melhor, mas é a nossa família”. Seguiu à risca o lema da Ordem “Servir ao Altíssimo em espírito de humildade”, nunca se prevalecendo de sua posição ou de seus cargos.

Ordenação Episcopal Dom Luigi, Ampére (PR),
25/08/1996.

Sua ordenação episcopal se deu no Ginásio de Esportes da cidade de Ampère (PR), no dia 25 de agosto de 1996, com a participação de muitos Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas e cerca de três mil fiéis. Seu lema episcopal era: “euntes, praedicate” “Ide, pregai o Evangelho”. Alguns dias antes da sua ordenação episcopal (19 de agosto) recebeu o título de Cidadão Honorário de Ampére.

Foi o Bispo auxiliar que Dom Agostinho esperava e precisava: disposto a fazer tudo o que precisasse para aliviar o peso do múnus episcopal de “seu chefe”, de saúde um tanto precária, marcada pelos achaques da idade, pelos problemas cardíacos e a dificuldade de locomoção. Dom Luís o representava em quase todos os eventos e celebrações fora da Diocese, tais como: Assembleias Nacionais dos bispos em Itaici (SP); Assembleias regionais em Curitiba; Reuniões dos Bispos da Província eclesiástica de Cascavel; Encontros para os Bispos organizados anualmente pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Muitíssimas vezes Dom Agostinho o delegou como seu representante também em reuniões, encontros, celebrações dentro de sua própria diocese. Estava bem consciente de que ser bispo não era uma honra, mas um serviço.
Aos 24 de abril de 2005 tomou posse como Bispo da Diocese de Apucarana (PR), onde permaneceu no pastoreio daquela Diocese até quando se tornou Bispo Emérito aos 08 de fevereiro de 2009. Aos 02 de outubro de 2009 entregou a Diocese a Dom Celso Antônio Marchiori.

Visita ad Limina de Dom Agostinho José Sartori e Dom Luigi Bernetti, Roma – Itália,
2003.

Foi Bispo referencial para a Pastoral Vocacional no Paraná desde 1999. Foi Bispo referencial para a Conferencia dos religiosos do Paraná desde 2003. Foi membro da Presidência da CNBB do Paraná, representando a Província Eclesiástica de Cascavel entre 1999 e 2002.

Ao longo destes anos como Bispo nunca esqueceu sua família religiosa. Sempre que seus compromissos o permitiam estava entre nós, ordenando sacerdotes, pregando retiro, fazendo palestras, enfim sendo nosso irmão. Quando se tornou Bispo Emérito voltou definitivamente à Ordem dos Agostinianos Descalços que o acolheu de braços abertos. Viveu seus últimos anos na comunidade Nossa Senhora da Conceição em Bom Jardim (RJ), que o acompanhou em tudo com muito amor e dedicação. Acometido com o mal de Alzheimer foi se tornando sempre mais dependente em tudo dos irmãos e irmãs. Ele que a vida inteira só soube servir nos últimos anos, soube, com humildade e paciência, receber a ajuda dos demais. Apesar da doença, sempre se ouvia de sua boca, consciente ou não, palavras que edificavam. Podemos dizer que até o final de sua vida cumpriu o seu lema: ‘‘Ide, anunciai o Evangelho’’. Faleceu às 18h do dia 11 de agosto de 2017, na cidade de Bom Jardim (RJ), com 83 anos de idade. Seu sepultamento se realizou em Ampére no dia 14 de agosto de 2017.

Comunidade religiosa de Bom Jardim (RJ),
2016.


Dom Frei Luís Vincenzo Bernetti, oad, 3º Bispo diocesano de Apucarana (PR)

Em 02 de fevereiro de 2005, em um de seus últimos atos, São João Paulo II, então Papa, nomeou o Bispo Auxiliar de Palmas/Francisco Beltrão, Dom Frei Luís Vincenzo Bernetti OAD, como 3º. Bispo da Diocese da Apucarana. A posse deu-se aos 21 de abril de 2005. Dom Frei Luís, compareceu à Catedral Diocesana de Apucarana, acompanhado de Frei Antônio Desideri OAD e muitos outros confrades. Junto à porta principal da Catedral, foi recebido por Dom Domingos Gabriel Wisniewski CM – 2º. Bispo Diocesano e por todos os presbíteros da Diocese. A cerimônia contou com a presença do Episcopado Paranaense. Grande número de sacerdotes diocesanos e religiosos, diáconos, religiosas, seminaristas e uma multidão de fiéis de todos os quadrantes da Diocese tomaram todo o espaço da Catedral.

Após toda a euforia da chegada e da novidade, rapidamente o novo Bispo já demonstrou para que veio. Organizou uma visita pastoral, onde em sessenta dias praticamente, conheceu todas as Paróquias, celebrando com o povo e tendo um primeiro contato com cada Padre. Com o aumento do número de Sacerdotes e também diante de limitações de alguns, não pensou duas vezes e começou a nomear vigários paroquiais. Os Reitores dos Seminários deixaram as funções de párocos, dedicando o tempo à formação dos futuros Presbíteros. Frequentemente visitava os seminários, tanto para conviver, quanto para tomar refeições e, sobretudo para celebrar a Santa Missa. Apreciava conviver e visitar os Padres. Surpreendeu o povo, quando em dias de semana se fez presente na Catedral, presidindo a Santa Missa e distribuindo a comunhão aos fiéis. Demonstrou um zelo pela Liturgia, ensinando e corrigindo certas situações que estavam passando despercebidas. Fez-se presente em congressos, jornadas, encontros, retiros, reuniões, que as Pastorais e Movimentos a nível Diocesano realizavam.

A princípio residiu na Casa Paroquial da Catedral, pois a nova residência episcopal estava em construção. Costumava dizer: “Os Padres são meus filhos e são os melhores do mundo”. Quando da inauguração da referida residência episcopal, para a qual fez questão da presença de todos os padres, celebrou a Santa Missa solene para abençoá-la e deu uma Bênção especial à capela e ao altar. Concluiu a cerimônia dizendo: “Esta é a casa dos Padres onde mora o Bispo.” E mais, “Nenhum Padre fique procurando lugar para a refeição ou pouso. Se dirigindo para Apucarana, avisem para que possamos nos organizar. Se não for possível avisar, venham da mesma forma.” Em outras ocasiões exortava: “Nunca diga não à Igreja, Deus vai lhe dar a Graça de Estado para cumprir a nova missão.”

Também convidou alguns Padres para morar com ele. E com seu modo especial de viver foi conduzindo sua missão. Sempre demonstrou humildade, determinação na resolução de problemas, vida intensa de oração e contemplação. Sempre enfrentou as diversas situações que lhe eram apresentadas e apresentou soluções, procurando demonstrar o cuidado de Pastor. O bem que ele deixou por onde passou não temos como medir, mas aqui registramos alguns dados:
1)Nesse período foi ordenado Bispo em nossa Catedral, o então Padre Dirceu Vegini, na ocasião Dom Luís foi um dos bispos Consagrantes.
2)Ordenou 10 Presbíteros.
3)Ordenou 6 Diáconos Permanentes.
4)Criou e Instalou a Paróquia Santa Rita de Cássia em Arapongas.
5)Conferiu o Sacramento do Crisma a 18.902 pessoas.

Na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus de 2008, celebrou seu Jubileu de Ouro de Ordenação Presbiteral, para o ato recebeu o Exmo. e Revmo. Sr Dom Lorenzo Baldisseri – Núncio Apostólico no Brasil, que presidiu a solenidade. Além do Núncio Apostólico, se fizeram presentes na Catedral, o episcopado paranaense, os Frades Agostinianos Descalços, o Clero Diocesano, Religiosas e Seminaristas, bem como grande número de fiéis das várias Paróquias da Diocese. Também em comemoração ao seu Jubileu, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima em Apucarana, fez fundir um sino de bronze de 135 kg, afinado com a nota musical MI, dedicado ao “Deus Altíssimo”, trazendo incrustrado uma homenagem ao Jubileu de Ouro de seu Bispo Diocesano. O próprio Dom Luís, procedeu a cerimônia de “batismo” do sino e o tocou pela primeira vez.

Ordenação Sacerdotal de Padre José Vendrusculo, CS, Astorga (PR),
24/04/2005.

Bodas de Ouro Sacerdotal de Dom Luis com o Núncio Dom Lourenço Baldisseri.

Com os sinais da doença e suas limitações, apresentou sua renúncia à Santa Sé, às vésperas de completar 75 anos de idade. Aos 9 de julho de 2009, Sua Santidade o Papa Bento XVI, aceitou sua renúncia e nomeou o então Sacerdote, Revmo. Sr. Pe. Celso Antônio Marchiori – Bispo Diocesano de Apucarana. Permaneceu, porém, como Administrador Diocesano até 30 de agosto de 2009, quando dá Posse ao novo Bispo e aqui encerra seu pastoreio.

Celebração de Corpus Christi, Apucarana (PR),
2009.

Tendo retornado à Casa do Pai na hora do Angelus do dia 11 de agosto de 2017, seu corpo foi apresentado na Catedral Diocesana de Apucarana no domingo dia 13, seguindo depois para ser sepultado em Ampére-PR, na Capela da Ordem dos Agostinianos Descalços. Fez jus ao seu lema episcopal: “Ide, pregai o Evangelho”, pois por onde passou e com quem encontrou deixou seu rastro de evangelizador. Em uma palavra Dom Frei Luís Vincenzo Bernetti OAD, se apresentou na Diocese de Apucarana, como Religioso, Sacerdote e Bispo da mais reta, fiel, digna e honrada estirpe.

Padre José Roberto Rezende


Brasão Episcopal de Dom Frei Luis Bernetti

 

O azul superior lembra o infinito, para o qual tende todo projeto humano alicerçado na fé em Deus, e também a água, que derramada sobre nossas cabeças, na força do Espírito Santo, no batismo, nos torna membros do povo de Deus, filhos e filhas do Pai, com Cristo o Bom pastor.
O coração lembra a entrega e doação da vida de Cristo a todos os cristãos por amor. Como ministro de Cristo, o bispo entrega e doa a sua vida, como pastor, simbolizado no cajado.
As sandálias, lembram a necessidade de partir e de se despojar, ilustrando seu lema episcopal, “andando…pregai”, também recordam a Ordem dos Agostinianos Descalços, a qual pertence o bispo Dom Luis Vicente Bernetti. As sandálias são colocadas sobre o “verde” que significa os campos onde age o pastor, que vai ao encontro de seu rebanho onde ele está, na missão de, configurado ao Cristo Bom pastor, pastorear o rebanho de Cristo.
O lema “Euntes…praedicate”, na faixa amarela, recorda a importância da Palavra de Deus e da missão de ser missionário e pregador da Boa nova do Reino de Deus, o maior tesouro que carregamos em vasos de barro e que transforma a vida de todas as pessoas humanas.

Revista Ide e Anunciai 7. Os Agostinianos Descalços no Rio de Janeiro (RJ)

Ao nos prepararmos para comemorar o septuagésimo aniversário da PARÓQUIA SANTA RITA DOS IMPOSSÍVEIS, não podemos deixar de mencionar que esta comunidade é o berço dos Agostinianos Descalços no Brasil.

Com efeito, os frades Agostinianos Descalços, Pe. Luigi Raimondo (Frei Luiz Raimondo), Pe. Antonio Scacchetti (Frei Antonio Scacchetti) e Pe. Francesco Spoto (Frei Francisco Spoto), partiram de Gênova (Itália) com destino ao Rio de Janeiro no dia 29 de maio de 1948, exatamente às 12h. Chegaram ao Porto do Rio de Janeiro no dia 12 de junho de 1948.

Dias após, em visita ao excelentíssimo Cardeal Arcebispo Dom Jaime de Barros Câmara, foram felicitados por sua chegada ao Rio de Janeiro. Nesse encontro lhes foi desejado um profícuo apostolado e o lugar escolhido foi a Igrejinha de Nossa Senhora da Conceição do Morro, situada no subúrbio de Ramos.

Na Igreja não havia acomodação para os três padres que ficaram morando na sacristia que servia de dormitório, cozinha, refeitório, sala de estar e visitas, situação que perdurou até o dia primeiro de outubro de 1950, quando foi construída uma pequena casa onde puderam ficar mais comodamente.  

Igreja Santa Rita dos Impossíveis, Rio de Janeiro (RJ),
1950.

A Capela estava sob o controle da Irmandade Nossa Senhora da Conceição, que até então administrava a Igreja. Entretanto, aos 21 de setembro de 1948, o Cardeal Dom Jaime Câmara erigiu canonicamente a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, confiando-a à Ordem dos Agostinianos Descalços na pessoa de Frei Luís Raimondo, que tomou posse como primeiro Pároco, no dia 26 de setembro, na presença do Cardeal e de um bom número de fiéis. As atividades religiosas estavam em franca expansão, sendo que no dia 08 de dezembro, do mesmo ano, fundaram-se a Pia União das Filhas de Maria e a Congregação Mariana de Moças.

Mesmo antes de ser erigida a paróquia os frades encontravam algumas resistências por parte da Irmandade que administrava a Capela. Devido às tensões, no final de 1949, os frades compraram o terreno de 2.250 m² de Dona Júlia, situado na rua das Missões, 502, agora rua Nossa Senhora das Graças, 1260 e começaram a construção da Igreja com ajuda do povo, e com o apoio e a orientação do Cardeal Dom Jaime.

Em setembro de 1950 a Igreja estava pronta e a paróquia do morro foi transferida para a nova sede, com o título, escolhido por Dom Jaime, de “Santa Rita dos Impossíveis”. O Cardeal do Rio repetia assim a invocação, que já havia sido usada pelo Papa Leão XIII. No dia 01 de outubro de 1950, foi celebrada solenemente a primeira Missa no novo templo, que se tornou o berço dos Agostinianos Descalços no Brasil.

Em junho de 1951, ocorreu um fato importantíssimo, o Prior Geral Frei Gabriel Maria Raimondo, realizou a primeira visita canônica à comunidade dos Agostinianos Descalços no Brasil. Na ocasião vieram mais dois frades, Pe. Luigi Fazio (Frei Luiz Fazio) e Pe. Vincenzo Mario Sorce (Frei Vicente Sorce), novos integrantes da comunidade de Ramos.

No início da missão agostiniana neste novo endereço foi realizada a primeira visita PASTORAL CANÔNICA À PARÓQUIA DE SANTA RITA DOS IMPOSSÍVEIS, por Dom Jaime Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, de 22 a 29 de março de 1952.

No dia 10 de agosto de 1952 tomou posse da Paróquia Santa Rita dos Impossíveis Frei Luiz Fazio. Na reunião do arcebispado sob a presidência do senhor Cardeal-arcebispo foram alterados os limites paroquiais ficando vizinhos das paróquias São Geraldo de Olaria e Nossa Senhora das Mercês indo até a Ilha do Fundão.

Frei Gabriele Raimondo, Frei Antonio Scacchetti, Frei Luigi Raimondo e Frei Francesco Spoto, Gênova – Itália,
maio de 1948.

Frei Luigi Fazio, Frei Gabriele Raimondo, Frei Vincenzo Sorce, Gênova – Itália,
1951.

A opção pela ajuda aos mais necessitados já se fazia presente, e no dia 13 de dezembro de 1952, houve distribuição dos mantimentos aos pobres da Paróquia, promovida pelo Vigário e pelos Vicentinos que foram fundados naquele ano, socorrendo 299 famílias.

No dia 06 de setembro de 1953, houve uma Romaria organizada pela paróquia, ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, seguindo com dois ônibus. De acordo com o Vigário reitor do Santuário de Aparecida, a entrada na Igreja seguiu com as bandeiras das associações paroquiais, o que posteriormente passariam a ser chamadas de pastorais.
O estandarte de Santa Rita, padroeira da paróquia, oferecido pelas zeladoras do Apostolado da Oração, foi benzido pelo Frei Francisco Spoto, na época Prior da comunidade.

O tempo foi passando e os Agostinianos Descalços continuaram animados impulsionando a vida paroquial. Aos 05 de abril de 1955, foi nomeado no cargo de Pároco Frei Francisco Spoto, em substituição ao Frei Luiz Fazio, que por motivo de saúde, teve que voltar para a Itália. A tamanha dedicação dos frades começava dar resultado, pois no ano de 1958 foram realizados 655 batizados. Um fato interessante é que neste ano, 20 meninas tinham o nome de Rita, sinal que a devoção só aumentava. Foram feitos no mesmo ano cerca de 100 processos matrimoniais, sendo que 65 casaram na Igreja Santa Rita dos Impossíveis. Em agosto de 1958, Frei Vicente viajou para Itália, para estudar.

Diante da resposta do povo sedento por conhecer melhor a Jesus Cristo, o Prior Geral Gabriel Raimondo voltou ao Brasil, aos 23 de março de 1961, trazendo consigo Pe. Luigi Vincenzo Bernetti (Frei Luis Bernetti) e retornou Frei Vicente Sorce para trabalharem no Brasil. Aos 22 de agosto de 1961 tomou posse como Pároco Frei Vicente Sorce. Em 1971 foi nomeado Pároco substituto Pe. Angelo Possídio Carù (Frei Angelo Carú), pois Frei Vicente viajou para Itália de férias.
Aos 28 de junho de 1972, o Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, por meio de um decreto criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, aonde, em 1948, os Agostinianos Descalços haviam começado sua missão. Com este desdobramento foi reduzido o território paroquial da Paróquia Santa Rita dos Impossíveis.

Ata de posse de Frei Vicente Sorce, Rio de Janeiro (RJ),
22/8/1961.

Em 25 de fevereiro de 1973, tomou posse como Pároco da Paróquia Santa Rita dos Impossíveis, Frei Luis Bernetti. O limite paroquial bastante amplo exigia a expansão dos locais de culto. Assim foi construída a Capela nossa Senhora Aparecida e inaugurada no dia 12 de outubro de 1973.

A população da paróquia foi crescendo cada vez mais e a igreja matriz se tornou pequena para o número de paroquianos. Precisava-se de uma nova igreja, bem mais ampla, bonita, majestosa e capaz de responder às exigências da comunidade paroquial. Assim, durante a festa de Santa Rita, no ano de 1975, foi lançada a campanha para a construção da nova igreja. Em novembro de 1975, Frei Antonio Natale Giuliani, que tinha sido ordenado presbítero em Bom Jardim, aos 17 de agosto de 1974, passou a ajudar na Paróquia Santa Rita como Vigário paroquial.

Em 1976 iniciou-se a construção da atual igreja. O povo, com estímulo dos frades, empenhou-se na construção do novo templo. Aos 21 de maio de 1977, Frei Possídio Carú celebrou a primeira missa na nova igreja, ainda por acabar. Em outubro de 1978, foi celebrada a última missa na velha igrejinha, por ocasião da festa de Nossa Senhora de Fátima.
No dia 22 de maio de 1981, festa da padroeira, na presença do Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, foi realizada a solene cerimônia de inauguração e bênção do novo templo, e também, do futuro Seminário, ao lado da igreja.
Aos 21 de fevereiro de 1982, tomou posse da paróquia Frei Antonio Desideri. Frei Calogero Carruba chegou da Itália para colaborar como Vigário paroquial. Em 1985 Frei Calogero foi transferido para Ampére e foi substituído pelo Frei Rosario Palo.

Com o crescimento das vocações no Brasil, foi necessário criar o espaço físico para o Seminário e, em 1987, o prédio anexo foi reformado e adaptado para ser o novo “Seminário Santa Rita”, que abrigou os estudantes de teologia e filosofia. O primeiro grupo chegou ao Rio no início de 1988 e começou a cursar filosofia e teologia na Escola Teológica do Mosteiro de São Bento. Aos 14 de fevereiro, deste mesmo ano, tomou posse da paróquia Frei Eugênio Del Medico. Este, com seus dons arquitetônicos, iniciou várias reformas, tanto na casa paroquial, como nos salões e principalmente na igreja.

Igreja Santa Rita dos Impossíveis, Rio de Janeiro (RJ),
março de 1958.

Frei Vincenzo Mario Sorce, Frei Gabriel Marinucci (Prior geral) e Frei Luigi Vincenzo Bernetti,
1961

Igreja Santa Rita dos impossíveis, Ramos/Rio de Janeiro (RJ),
2018.

Com o aumento das vocações percebeu-se que o Seminário estava se tornando pequeno. Decidiu-se, então, levantar, sem demora, o terceiro piso. Novamente contando com a generosidade do povo e também dos benfeitores de longe, no mês de abril de 1991, a casa ficou pronta para receber até 32 professos. Desde 1988 o reitor do seminário era Frei Luis Bernetti.

Assim, aos 11 de outubro de 1990, foram aprovados os primeiros professos aos votos solenes que foram: Frei Moacir Chiodi, Frei Álvaro Antônio Agazzi, Frei Jurandir de Freitas Silveira, Frei Jandir Bergozza, Frei Estevão José da Cunha e Frei Amarai Alves da Silva.

Finalmente a árvore plantada, deu seus primeiros frutos, e no início de 1992, foram ordenados presbíteros os primeiros Frades da Ordem no Brasil; em 25 de janeiro Frei Moacir Chiodi e em 01 de fevereiro Frei Álvaro Antônio Agazzi, que permaneceu no Seminário Santa Rita como vice reitor, terminando o curso de teologia.

Grupo de Professos, Mestre Frei Luis Vincenzo Bernetti,
1989.

No dia 17 de maio de 1992, foi realizada a Dedicação da Igreja de Santa Rita dos Impossíveis por sua Eminência Dom Eugênio Sales, por ocasião dos 400 anos de fundação da Ordem dos Agostinianos Descalços.

No dia 07 de fevereiro de 1993 Frei Luis Bernetti, além de mestre dos professos, assumiu como Pároco e Prior. Frei Gilmar Morandim assumiu como vice-mestre. Aos 20 de fevereiro de 1994 tomou posse como Pároco, mestre e prior Frei Doriano Ceteroni, tendo Frei Amaraí como Vigário paroquial. No dia 01 de agosto de 1995, logo após sua ordenação presbiteral, Frei Cézar Fontana assume como Vigário paroquial para compor a comunidade, já que Frei Gilmar foi trabalhar em Cebú nas Filipinas.

Em fevereiro de 1996 Frei Lianor Moreschi foi ordenado presbítero e veio compor a comunidade, até setembro quando foi para Itália fazer mestrado em teologia moral. Em maio deste mesmo ano, chegou Frei César Antonio Pôggere como Vigário paroquial. Em janeiro de 1997, Frei Edecir Calegari foi designado como mestre dos professos, pois Frei Amaraí foi para outra família religiosa, juntamente com Frei César. No mesmo ano, aos 06 de agosto, Frei Gelson Briedis chegou como Vigário paroquial; no ano seguinte foi para nova comunidade na Pavuna. No dia 16 de fevereiro de 1998, tomou posse como Pároco e prior Frei Moacir Chiodi. Em fevereiro de 2001, assumiu como Vigário paroquial e vice mestre, Frei Carlos Alberto Moraes de Ramos.

Após setenta anos de vida comunitária, não podemos deixar de agradecer a Deus por nos beneficiar com a presença de muitos seminaristas que foram ordenados e são presença de Deus nas diversas realidades onde a Ordem atua.

As festas da Padroeira constituem um momento forte de devoção e confraternização da comunidade sendo constante a expansão das diversas linhas de pastoral, com atendimento aos mais necessitados, tanto material como espiritualmente. Não é sem motivo que os paroquianos se orgulham de ter participado ativamente no crescimento da paróquia contribuindo ativamente para o crescimento do Reino de Deus.

Aos 09 de janeiro de 2003 tomou posse como Pároco Frei Carlos Topanotti, tendo como prior e mestre Frei Braz Hoinatz de Andrade, Frei Francisco Luiz Ferreira ecônomo da casa e o Irmão Coadjutor Frei José Mariano Gregorek. No início de 2004, tendo Frei Braz ido para Itália, assumiu como prior da comunidade e mestre dos professos, aos 06 de maio de 2004, Frei Álvaro Antonio Agazzi. Neste mesmo ano começou a fazer parte da comunidade Frei Adalmir de Oliveira, após sua ordenação, dia 16 de maio, permanecendo até o final de 2005. Em 02 de março de 2006, Frei Djorge Marcelo de Almeida, passou a integrar a comunidade, exercendo a função de Vigário paroquial.

Interior da Igreja Santa Rita dos Impossíveis, Ramos/Rio de Janeiro (RJ),
2018.

O Capítulo Comissarial de 2006 mudou a comunidade onde Frei Airton Mainardi assumiu como Pároco e Frei Moacir Chiodi como Vigário paroquial e ecônomo. Em maio de 2008, após sua ordenação, Frei Osmar Antonio Ferreira veio compor a comunidade.

Em 2010, sendo Frei Álvaro Antônio Agazzi prior provincial, Frei Airton Mainardi foi designado prior da comunidade e mestre dos professos e Frei Antônio Carlos Ribeiro assumiu como Pároco, aos 14 de fevereiro de 2010. No ano seguinte assume como Vigário paroquial Frei Valdecir Soares.

Aos 11 de fevereiro de 2011 veio integrar a comunidade o Capelão militar Frei Valdecir Chiodi. No dia 18 de maio de 2012 foi nomeado para o ofício de Vigário paroquial Frei Leandro Edmar Nandi. Devido às necessidades foi nomeado Pároco, aos 14 de fevereiro de 2013, Frei Jurandir de Freitas Silveira, também na função de prior da comunidade. Nesta mesma data Frei Antonio Desideri foi nomeado Vigário paroquial.

Aos 15 de março de 2015 Frei Osmar Antonio Ferreira tomou posse como Pároco e Frei Gustavo Tubiana como Vigário paroquial.

Em 2016, por decisão do III Capítulo Provincial, realizado no final do ano anterior, a comunidade, além dos professos estudantes de Teologia, passou a receber também os seminaristas do curso de filosofia, que até então estudavam em Ourinhos (SP).

Neste ano Frei Márcio dos Santos Silva assumiu como mestre dos professos e Frei Joacir Chiodi mestre dos seminaristas. Frei Valdecir Chiodi, deixou de fazer parte da Ordem dos Agostinianos Descalços para servir exclusivamente como capelão da Marinha.

Portanto, desde a fundação, aos 21 de setembro de 1948, dia da posse dos primeiros frades Agostinianos Descalços, que vieram da Itália, até hoje, quantas sementes foram plantadas e quantos frutos foram colhidos, muitos vocacionados seguiram a vida religiosa, outros entraram para dioceses e continuam sendo amigos dos frades, e fazendo um bem enorme à Igreja, outros todavia, saíram e são pais de família, e estão inseridos na sociedade. A semente foi lançada, cabe a cada um adubar, regar e cuidar para que produza frutos de bondade, amor, fé, paz, esperança, caridade, impulsionados pela espiritualidade de Santo Agostinho, que nos convida, seja qual for nossa vocação, a encontrar nossa realização somente em Deus, que é a beleza sempre antiga e sempre nova.

Frei Osmar Antonio Ferreira, oad

La libertà: uno sguardo biblico

Frei Diones Rafael Paganotto, oad

L’anno di 2018 è speciale per la Provincia del Brasile, visto che festeggia i settant’anni dell’arrivo dei primi Agostiniani Scalzi nelle terre brasiliane. Quest’anno giubilare ha coinciso con la celebrazione del XIV Congresso della FABRA (Federazione Agostiniana Brasiliana). Evento realizzato dall’entità che collega tutte le famiglie religiose agostiniane presenti nel Brasile. Ad ogni tre anni la FABRA realizza un Congresso religioso, pastorale e formativo. L’edizione di numero XIV ha avuto luogo a São Paulo (SP) nei giorni 15 a 19 di gennaio. Il tema del Congresso di 2018 è stato: “La libertà in Sant’Agostino”.

Alcuni dei nostri confratelli della Provincia hanno partecipato all’incontro settimanale: il provinciale P. Vilmar Potrick, il procuratore generale P. Calogero Carrubba, P. Márcio dos Santos, P. Antonio Ribeiro que faceva parte del gruppo organizzativo, il chierico Fra Jairo Itamar dos Santos e P. Diones Rafael Paganotto che ha proferito una riflessione biblica sulla libertà. Il riassunto di questa riflessione è proposto da questo articolo.

 

Il termine “libertà”

Il termine “libertà” appare spesso nelle attuali riflessioni filosofiche e giuridiche, ma ben poco nel vocabolario biblico. Infatti, gli agiografi non riflettono su cosa significa la libertà, ma raccontano eventi di liberazione ed affermano la novità liberatrice portata da Cristo.

 

Pensiero semita

Il pensiero semita, espresso sopratutto nell’Antico Testamento, non utilizza un termine ebraico specifico per definire la libertà, ma preferisce raccontare l’esodo, il più grande evento di liberazione. Il verbo ‘aláh, cui significado é “far uscire”, esprime l’idea di “liberare”. Ecco due testi profetici, secondo la traduzione della Bibbia della CEI, che uttilizzano questo verbo.

Per mezzo di un profeta il Signore ha fatto uscire Israele dall’Egitto, e per mezzo di un profeta lo custodì (Os 12,14).
Popolo mio, che cosa ti ho fatto? In che cosa ti ho stancato? Rispondimi. Forse perché ti ho fatto uscire dalla terra d’Egitto, ti ho riscattato dalla condizione servile e ho mandato davanti a te Mosè, Aronne e Maria? (Mq 6,3-4).

Il grande evento storico di libertà riceve, così, una rilettura teologica. Essere libero significa essere liberato, elevato, salvato da Dio. L’uomo biblico riconosce in Dio la fonte della libertà. In questo modo, è possibile affermare che in Dio si trova la libertà, senza l’azione di Dio il popolo sceso in Egitto continuerebbe schiavo.

 

Pensiero greco

Nel linguaggio greco il termine “libertà” è reso con eleuthería, cui radice leuth- si collega ad un altro termine importante: laós che significa “popolo”. Secondo il modo di pensare greco, la persona è libera nel momento in cui appartiene al popolo. Quelli che non fanno parte del popolo (schiavi, donne, bambini) non sono liberi! Questa è una prospettiva completamente diversa da quella biblica: per l’israelita la libertà è un dono di Dio, per il greco la libertà è un privilegio all’interno della società.

Questa lettura della libertà viene completata dal pensiero filosofico stoicista: l’uomo è libero quando è capace di si autogovernare. Infatti, la persona che si trova sotto il principio moderatore della legge  è anche capace di fare un cammino ascetico, ossia, non essere schiavizzata dalla materialità. La libertà, quindi, è tanto un elemento pubblico (appartenenza al popolo) come privato (capacità di si autogovernare).

 

L’esodo e la libertà

Come detto poc’anzi, l’Antico Testamento non define la libertà, ma riflette circa l’evento dell’esodo. I primi cinque testi biblici sono conosciuti come Toráh: un unico Libro che raccoglie la Legge di Israele. All’interno di questa collezione, il Libro dell’Esodo possiede un posto privilegiato, visto che è preparato dal Libro della Genesi e rende possibile i tre seguenti: Levitico, Numeri e Deuteronomio.

Il Libro della Genesi si divide in due grandi parti: Gn 1–11 riflette circa l’inizio di tutto, mentre Gn 12–50 narra le vicende collegate ai patriarchi. Il libro finisce con la discesa di Giacobbe/Israele con i suoi figli all’Egitto, dove sono accolti da Giuseppe e dal Faraone.

I primi capitoli del Libro dell’Esodo (Es 1–13) testimoniano il cambio di personaggi, il conflitto tra gli Israeliti e il Faraone, la vocazione di Mosè, l’inizio della sua missione, i dieci segni prodigiosi e l’uscita per celebrare la pascoa. Questi testi preparano l’importante evento di leberazione: il passaggio del mare (Es 14–15). La narrazione e il ringraziamento innico hanno la libertà come sottofondo, visto che Israele lascia la schiavitù in Egitto per ricevere dal Signore la libertà. La narrazione pone una grande domanda di sottofondo: chi è il padrone d’Israele? Il Signore o il faraone?

Quando il faraone fu vicino, gli Israeliti alzarono gli occhi: ecco, gli Egiziani marciavano dietro di loro! Allora gli Israeliti ebbero grande paura e gridarono al Signore (Es 14,10).

Il rischio di perdere l’occasione della liberazione provoca la paura, questo rischio viene aggravato, giacché Israele può perdere ancha la sua identità e fede. Il grido degli Israeliti ricorre anche all’inizio del Libro dell’Esodo, quando si rivolgono al Signore in mezzo alla schiavitù.

Dopo molto tempo il re d’Egitto morì. Gli Israeliti gemettero per la loro schiavitù, alzarono grida di lamento e il loro grido dalla schiavitù salì a Dio. Dio ascoltò il loro lamento, Dio si ricordò della sua alleanza con Abramo, Isacco e Giacobbe. Dio guardò la condizione degli Israeliti, Dio se ne diede pensiero (Es 2,23-25).

Il grido d’Israele è una richiesta di libertà. Mosè ed Arone sono soltanto dei personaggi al servizio di questa libertà. Il grande artefice è il Signore che ascolta il grido di lamento e se ne dà pensiero. La libertà rafforza il rapporto tra Israele il suo Dio, visto che possibilita il ritorno alle proprie origini, da dove Giacobbe/Israele era partito con i suoi figli. Il cammino nel deserto e il dono della Legge sono etappe successive all’uscita ed abbracciano la seconda parte del Libro dell’Esodo e gli altri tre libri seguenti che si concentrano, soprattutto, sulla Legge, riconosciuta come un dono di Dio per vivere nella libertà. Mentre Israele vive in buon rapporto con Dio ed obbedisce la Legge, la libertà viene garantita; però, quando Israele abbandona Dio e la sua Legge, il rischio di una nuova schiatù si torna reale.

L’evento dell’esodo fu trasmesso lungo tante generazioni fincchè fu messo per scritto nel libro che disponiamo. Questo evento di libertà si ripete fino ad oggi, quando un popolo o delle persone gridano al Signore chiedendo la libertà, chiedendo che questo diritto universale venga loro riconosciuto.

 

Gesù e la libertà

Il Nuovo Testamento fa un passo in avanti in relazione all’Antico Testamento: il ministero di Gesù di Nazaret come salvatore e liberatore. Questa prospettiva è presente in tanti testi, ma due meritano l’attenzione e saranno proposti in seguito.

 

Il vangelo di Giovanni

Il primo testo è tratto dal IV Vangelo, sin dall’antiquità riconosciuto come il Vangelo di Giovanni. Un testo ricco e profondo che, in rapporto agli altri tre vangeli, ha molte particolarità, tra cui quella di essere un testo rivolto ad un comunità matura nel cammino di fede che valorizza la divinità di Gesù.

Un punto interessante della teologia di Giovanni è il nuovo significato conferito alle principali feste giudaiche: la festa della Pascoa festeggiava il dono della libertà e passa ad evidenziare la liberazione dalla morte nella risurrezione di Cristo; la festa di Pentecoste festeggiava il dono della Legge sul Sinai e segnala il nuovo dono, quello dello Spirito Santo; la festa delle Tende celebrava il cammino nel deserto con la processione dell’acqua e passa a rafforzare il senso della missione di Cristo come fonte dello Spirito.

Nell’ultimo giorno, il grande giorno della festa [delle Tende], Gesù, ritto in piedi, gridò: “Se qualcuno ha sete, venga a me, e beva chi crede in me. Come dice la Scrittura: Dal suo grembo sgorgheranno fiumi di acqua viva”. Questo egli disse dello Spirito che avrebbero ricevuto i credenti in lui: infatti non vi era ancora lo Spirito, perché Gesù non era ancora stato glorificato (Gv 7,37-39).

Gesù introduce la missione dello Spirito e la necessità della fede. Infatti, lui si colloca come l’unico capace di saziare la sete dell’essere umano. La sete che si manifesta in tanti modi diversi, una sete che è anche di libertà! Per ottenere la sazietà si fa necessaria la fede, essere credenti in lui, essere suoi discepoli, mettersi nel suo cammino.

A queste sue parole, molti credettero in lui. Gesù allora disse a quei Giudei che gli avevano creduto: “Se rimanete nella mia parola, siete davvero miei discepoli; conoscerete la Verità e la Verità vi farà liberi” (Gv 8,30-32).

La libertà non è soltanto una liberazione politica, come quella dall’Egitto, nemmeno l’appartenere ad un popolo, come la concezione greca. La libertà significa essere discepolo, seguire i passi di colui che da sempre fu una persona libera: Gesù Cristo.

La libertà porta alla consocenza della Verità che nella teologia del IV vangelo è il proprio Cristo, colui che rivela il disegno salvifico del Padre. Conoscere non è soltanto qualcosa di intellettuale, ma è personale. La libertà è una possibilità offerta da Dio ad ogni essere umano, non soltanto ad un popolo o gruppo. Tutti possono essere davvero liberi! Infatti, tutti possono conoscere Dio ed essere suoi discepoli.

 

Il vangelo di Paolo

Il secondo testo del Nuovo Testamento che completa l’esposizione circa la libertà è tratto dalla Lettera ai Galati. In questa corrispondenza Paolo cita la libertà, dopo aver parlato della difficoltà con i giudei-cristiani, della giustificazione per la fede e dell’esempio di fede di Abramo.

Cristo ci ha liberati per la libertà! State dunque saldi e non lasciatevi imporre di nuovo il giogo della schiavitù (Gal 5,1).

L’apostolo delle genti sottolinea il dono della libertà e la sua provenienza divina, così come già presente nel Libro dell’Esodo e nel IV Vangelo. Inoltre, Paolo rafforza la prospettiva di Cristo come fonte della libertà. La sua riflessione parte da una definizione negativa, ossia, la libertà è vista come eliminazione di qualcosa negativa, in questo caso dalla schiavitù. “Imporre di nuovo il giogo della schiaviù” significa il ritorno alla situazione anteriore a Cristo, nella quale le opere della Legge erano viste come capaci di liberare l’essere umano dal peccato. Paolo è totalmente contrario a questa impostazione. Cristo ha liberato l’umanità una volta per sempre, un unico atto di liberazione con effetti perenni. Paolo concepisce, così, due possibili forme d’esistenza umana: forma antica (sotto la Legge, con il peccato, senza Cristo) e la forma nuova (sotto la Grazia, senza il peccato, con Cristo).

Voi infatti, fratelli, siete stati chiamati a libertà. Che questa libertà non divenga però un pretesto per la carne; mediante l’amore siate invece a servizio gli uni degli altri (Gal 5,13).

La libertà è una vocazione universale: tutti sono chiamati in Cristo a vivere questo dono. La libertà, però, non può essere intesa come libertinaggio, il semplice fare ciò che si vuole, il “pretesto per la carne”. Paolo arriva, così, ad una definizione positiva della libertà: la capacità di fare il bene. Con l’amore di Dio è possibile mettersi al servizio (come già propoto dal Libro dell’Esodo) e ritornare costantemente alle origini, alla santità iniziale creata da Dio. Soltanto chi è libero può amare e servire sotto l’azione dello Spirito (come evidenziato dal IV vangelo). La persona liberata da Cristo non vive secondo un criterio esteriore, come i greci concepivano la libertà, ma secondo un criterio interiore, la vita nella Grazia di Dio. Paolo afferma che Cristo libera per vivere come fratelli nell’amore. Essere libero significa, così, fare il bene.

 

Artigo publicado na revista Presenza Agostiniana, n. 1, gen./feb. 2018, p…