Praticamente um século após o nascimento da nossa Ordem (1592) recebemos a missão de zelar pela devoção a Nossa Senhora de Valverde, em uma cidadezinha homônima, que tem uma história ainda mais secular: iniciou-se no ano de 1038.
Um ex soldado de nome Dionísio, que havia se tornado um mercenário, vivia em uma gruta na região chamada “Vallis Virdis” (Valle Verde) = Valverde. Um dia estava para matar um devoto de Maria chamado Egídio. Naquele momento Nossa Senhora apareceu e disse a Dionísio: “Não maltrate o meu devoto! Jogue fora essa espada e muda de vida!” O malfeitor acolheu o pedido de Maria e se converteu. Após este encontro transformador começou a divulgar o fato e muitos se interessaram. Para indicar o lugar onde construir uma igreja os devotos receberam um sinal extraordinário. Estavam rezando em uma procissão e um bando de grandes pássaros sobrevoou o lugar compondo a forma de “M”. O povo entendeu que naquele lugar deveriam construir o templo. Durante a construção veio a faltar água. N. Sra. apareceu a Dionísio e disse a ele para bater na rocha da gruta onde morava e desta jorrou água, formando uma fonte abundante, que verte água ainda hoje.
No final de agosto de 1040 a construção já estava realizada e o convertido Dionísio rezava na igreja suplicando a N. Sra. um modo para tornar visível a sua presença naquele lugar. Adormeceu e no dia seguinte, para sua surpresa, o ícone de Nossa Senhora de Valverde estava impresso em um dos pilares de pedra da igreja. O prodígio teve grande repercussão e o afresco existe ainda hoje, com sucessivos acréscimos e restauros.
A devoção continuou desenvolvendo-se por séculos. Em 1694, após um desastroso terremoto, ocorrido em 1693, que devastou a região de Catania, causando cerca de 17 mil mortes, a nossa Ordem assumiu a missão de zelar pela devoção a Nossa Senhora de Valverde e, naquela ocasião, reconstruir o Santuário dedicado a Nossa Senhora de Valverde. Com grande esforço a igreja foi reaberta e, em 1710, o convento (casa de formação) anexo ao Santuário, foi inaugurado. Centenas de religiosos passaram pelo Santuário ao longo destes 324 anos de presença da nossa Ordem neste lugar santo. Incontáveis devotos encontraram conforto espiritual e serenidade ao visitar o Santuário, contemplar a linda imagem de Nossa Senhora e receber os sacramentos, de modo especial o da Reconciliação, motivo pelo qual ainda nos nossos dias muitas pessoas vêm ao Santuário.
Santuário e Convento de Valverde.
A comunidade de Valverde doou muitas vocações à Ordem, à Igreja, das quais evidenciamos especialmente as que têm ligação com a nossa missão no Brasil, que deu origem à atual Província do Brasil “Santa Rita de Cássia”. Entre os três primeiros frades OAD que chegaram no Brasil em 1948 um era siciliano: Frei Francesco Spoto. E logo em seguida, em 1951, outros dois foram enviados, e entre estes outro também siciliano: Frei Vincenzo Sorce, o qual partiu de Valverde para a missão. Um detalhe muito significativo que encontramos no testemunho deste grande missionário é que quando ele estava para deixar Valverde e partir para o Brasil, alguns fiéis tentavam convencê-lo a permanecer na sua terra, onde havia muito trabalho pastoral, e não arriscar a vida e a saúde em um lugar distante e incerto como era visto o Brasil. Este missionário, assim como os outros quatro, não deram ouvidos a essas “tentações” e mergulharam na missão, não sem grandes sofrimentos e provações. Hoje, após 70 anos de missão OAD no Brasil, a nossa Província italiana necessita de reforços, devido à idade avançada dos poucos frades presentes e à dramática inexistência de jovens italianos em formação. Graças a Deus, e ao intenso trabalho dos membros da Província do Brasil, começando pelos primeiros, aos quais agradecemos de coração, podemos hoje ajudar a Itália enviando três frades ao Santuário N. Sra. de Valverde: Frei Nei Márcio Simon, Frei Gelson dos Santos Lazarin e Frei Leandro Xavier Rodrigues, presentes em Valverde desde 05 de fevereiro de 2016.
Posse de Frei Nei Marcio Simon,
5/2/2016.
Eu disse, algumas vezes, ao povo de Valverde e diretamente ao Frei Vincenzo Sorce, porção viva da nossa história: se nós hoje podemos responder “sim” ao chamado a ser missionários em terras estrangeiras, é porque o Frei Vincenzo e outros confrades tiveram a coragem de sair da Itália 70 anos atrás! Nós, hoje, indignamente, representamos os frutos da missão OAD no Brasil, sendo missionários na Itália.
Agradecemos imensamente a Maria, por ter acolhido a nossa Ordem há mais de três séculos neste oásis de paz, por nos ter chamado como Província brasileira a ser missionários com e na Província italiana, e suplicamos a Ela, e ao nosso Pai Santo Agostinho, a intercessão para que novos jovens sintam o chamado à vida consagrada e missionária e sejam acolhidos por nós segundo a vontade de Deus.
Frei Nei Márcio Simon, oad