Testemunho de Fr. Gelson Lazarin na Jornada Mundial da Juventude, Lisboa (Portugal)

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é um evento que reúne jovens de todo o mundo e é convocado a cada dois ou três anos. Este ano, foi realizado em Portugal, em Lisboa, na primeira semana de agosto, de 1 a 6. Este evento foi fortemente desejado por São João Paulo II, o fundador da JMJ. Desde 1985, os jovens se reúnem em torno do sucessor de Pedro para orar juntos. Dois são os símbolos importantes da Jornada Mundial da Juventude: a Cruz e o ícone de Maria Santíssima.

Preparação

Eu sou o Fr. Gelson dos Santos Lazarin, atualmente, Mestre dos Aspirantes no Seminário Santo Agostinho de Ampére (PR). Particiarei de diversos encontros de jovens no Brasil, mas especialmente na Itália, onde passei muitos anos estudando teologia e atuando na pastoral. Esta foi minha primeira JMJ, e devo dizer que foi uma experiência maravilhosa, repleta de emoções e, acima de tudo, espiritualidade. Minha Jornada Mundial da Juventude começou no Brasil, em 16 de julho, na Catedral de Francisco Beltrão, com a Santa Missa de envio dos jovens de nossa Diocese de Palmas e Francisco Beltrão. Concelebrei a Eucaristia com Dom Edgar Xavier Ertl, na presença dos jovens que partiram para Portugal para a JMJ.

Chegada a Portugual

Minha Jornada Mundial da Juventude concentrou-se nos dias de 2 a 6 de agosto, em Lisboa, Portugal. Minha irmã Tatiane dos Santos Lazarin também se juntou a mim. Os outros 11 jovens de nossa Diocese chegaram a Portugal alguns dias antes, enquanto minha irmã e eu estávamos na Itália visitando confrades religiosos e amigos. Um momento especial foi a visita ao túmulo de São João Paulo II no Vaticano, o fundador da JMJ. Outro momento emocionante e espiritual foi a visita ao túmulo do Beato Carlo Acutis em Assis, um dos patronos da JMJ.

No dia 2 de agosto, bem cedo pela manhã, minha irmã e eu chegamos a Lisboa. Devo dizer que, assim que chegamos ao aeroporto, sentimos imediatamente os corações batendo mais forte diante de tantos jovens que estavam chegando para a JMJ. A primeira coisa que fizemos foi ir à casa da família que nos hospedou, pessoas muito gentis e brasileiras que vivem em Portugal. Assim como eles, muitas outras famílias hospedaram jovens da JMJ. Essa dinâmica de acolhimento é uma parte linda da Jornada Mundial da Juventude, onde é possível conhecer melhor outra cultura e pessoas que certamente nos enriquecem. O mesmo vale para outros momentos de encontro, como aqueles com o Papa Francisco, nos ônibus, trens, metrô e caminhando… cada oportunidade é uma boa ocasião para dialogar sobre diversos temas, desde amizade e cultura até, principalmente, a fé em Jesus Cristo.

Dinâmica da JMJ

A JMJ tem vários pontos de encontro para os jovens, com o objetivo de trocar experiências, tanto com momentos de oração quanto com atividades mais culturais/religiosas, como concertos e catequeses. Há também espaço para o Festival dos influenciadores católicos, com o lema “A Igreja te escuta”, que aconteceu bem no meio da Jornada Mundial da Juventude em 4 de agosto. Esse espaço proporcionou a oportunidade para influenciadores católicos de todo o mundo se conhecerem e conhecerem as diferentes maneiras pelas quais eles levam o Evangelho aos jovens que os seguem. Além disso, na cidade da Alegria está localizado o Parque da Reconciliação, onde os peregrinos puderam encontrar a misericórdia de Deus através do sacramento da reconciliação.

A cidade da Alegria também é o local onde aconteceu a Feira Vocacional, reunindo muitos jovens. Na feira vocacional, há estandes de congregações, ordens religiosas, associações, movimentos e projetos sociais. Lá, é possível conversar e compartilhar experiências vocacionais. O objetivo também é promover as vocações. Para enriquecer minha experiência, busquei conversar com algumas congregações sobre como estão trabalhando com as vocações. Devo dizer que foi uma ótima oportunidade para a troca de ideias, que certamente serão úteis para o que faço no seminário no Brasil.

Uma novidade importante desta edição da JMJ são os encontros Rise Up, que desafiaram os jovens a refletir sobre os grandes temas do pontificado do Papa Francisco: Ecologia Integral, Amizade Social e Misericórdia. Outro ponto bonito de encontro dos jovens para a oração é a Igreja de Santo Antônio de Lisboa, que certamente permanecerá na minha história pessoal. Lá, em 3 de agosto, concelebrei com vários presbíteros no dia do meu décimo aniversário de ordenação sacerdotal. É claro que os momentos mais esperados pelos jovens eram os encontros com o Papa Francisco, que foram, sem dúvida, momentos de grande emoção, mas, acima de tudo, de muita fé em Jesus Cristo.

Experiência pessoal

Devo dizer que, antes de partir, alguns me disseram que muitos vão à Jornada Mundial da Juventude apenas como turistas, e certamente, devido ao grande número de jovens, pode ser um pouco difícil rezar e aproveitar o dia. Outros, no entanto, falaram sobre uma experiência linda de oração, fé, cultura e diálogo. Isso me perturbou um pouco, mas desde o primeiro dia, percebi que havia muita alegria nos jovens e um desejo de orar. Certamente, alguns têm mais dificuldade em viver essa experiência de fé, mas os pensamentos de Deus não são os mesmos dos seres humanos.

Encontros com o Papa Francisco

No primeiro encontro com o Papa, houve muita emoção entre os jovens no Parque Eduardo VII, chamado de “colina do encontro” durante esses dias, e o tema da JMJ fala de um encontro entre Maria Santíssima e sua parente Isabel: “Maria se levantou e foi às pressas” (Lc 1, 39). Algumas palavras do Papa em 3 de agosto, na recepção aos jovens, foram as seguintes:

“Queridos meninos e meninas, convido vocês a pensar em algo muito bonito: que Deus nos ama, Deus nos ama como somos, não como gostaríamos de ser ou como a sociedade gostaria que fôssemos: como somos. Ele nos ama com nossos defeitos, com nossas limitações e com o desejo de seguirmos em frente na vida. Deus nos chama assim. Tenham confiança, porque Deus é Pai, e é um Pai que nos ama, um Pai que nos quer bem. Isso não é muito fácil, e é por isso que temos um grande auxílio na Mãe do Senhor, que também é nossa Mãe. Ela é nossa Mãe. Só queria dizer isso a vocês. Não tenham medo, tenham coragem, sigam em frente, sabendo que somos protegidos pelo amor de Deus. Deus nos ama. Vamos dizer juntos, todos: ‘Deus nos ama’. Mais forte, que não consigo ouvir! [Eles repetem] Não dá para ouvir aqui… [Eles repetem] Obrigado!”

No segundo encontro com o Papa, em 4 de agosto, não havia apenas emoções, mas também uma grande fé em Jesus Cristo. Os jovens rezaram e meditaram a Via Sacra com o Papa Francisco. Ainda hoje, quase dois meses após a JMJ, eu me arrepio ao escrever este texto. Eram quase um milhão de jovens ajoelhados, orando, sentindo o amor que emanava da Cruz. Uma frase dita por uma pessoa muito religiosa a Papa Francisco ficou na memória: “Senhor, por tua inefável agonia, posso acreditar no amor.”

A colina do encontro não era apenas um local de encontro dos jovens com o Papa, mas realmente se tornou um encontro do Papa e dos jovens com Jesus Cristo. E nesse encontro de fé e amor, há um modelo muito especial a ser seguido:

“A Mãe do Senhor é o modelo dos jovens em movimento, não ficando parados diante do espelho contemplando sua própria imagem ou ‘presos’ nas redes. Ela está totalmente voltada para o exterior. Ela é a mulher da Páscoa, permanentemente em um estado de êxodo, saindo de si mesma em direção ao grande Outro, que é Deus, e em direção aos outros, aos irmãos e irmãs, especialmente aos mais necessitados, como sua parente Isabel.”

Outros dois momentos fundamentais da Jornada Mundial da Juventude são os eventos da Vigília de Oração e a Santa Missa de Envio nos dias 5 e 6 de agosto. Estes eventos foram realizados no Parque Tejo, em Lisboa, durante esses dois dias, e foi chamado de Campo da Graça. Cerca de um milhão e meio de jovens se reuniram no Campo da Graça para esses dois momentos.

Em 5 de agosto, foi o dia do peregrinato dos jovens para a Vigília de Oração. Pouco a pouco, todos os jovens, alguns usando transporte público e outros a pé, como eu, chegaram ao Campo da Graça. Um detalhe interessante é que os jovens não estavam reclamando; a característica comum a todos era a alegria, a alegria de estar com Jesus. Uma jornalista que estava no voo de volta a Roma com o Papa relatou: “… encontrei um alto oficial da polícia que me disse que nunca tinha visto uma multidão tão obediente e pacífica.” À noite, tivemos a Vigília de Oração com o Papa Francisco, momentos de compartilhamento, oração e adoração a Jesus na Eucaristia.

As palavras do Papa durante a Vigília de Oração foram as seguintes:

“Dá-me muita alegria ver-vos! Obrigado por viajardes, por caminhardes, e obrigado por estardes aqui! E penso que também a Virgem Maria teve de viajar para ver Isabel: ‘Levantou-se e partiu apressadamente’ (Lc 1,39). Podeis perguntar: por que razão Maria se levanta e vai apressadamente até à sua prima? Claro, ela acabara de saber que a sua prima estava grávida, mas ela também estava. Por que ir então, se ninguém a tinha convidado? Maria realiza um gesto não solicitado e não devido; Maria vai porque ama, e ‘quem ama voa, corre alegremente’ (A Imitação de Cristo, III,5). Isso é o que o amor faz… E na vida, para alcançar as coisas, é preciso treinar, andar. Às vezes, não temos vontade de caminhar, não temos vontade de nos esforçar, copiamos nas provas porque não queremos estudar e não obtemos resultados. Não sei se alguém aqui gosta de futebol… eu gosto. O que está por trás de um gol? Muito treinamento. O que está por trás de um resultado? Muito treinamento. E na vida, nem sempre podemos fazer o que queremos, mas o que nos leva a realizar a vocação que temos dentro de nós – cada um tem a sua própria vocação. Caminhar. E se eu cair, vou me levantar ou alguém vai me ajudar a me levantar. Não fique caído, treine, treine para caminhar.
E tudo isso é possível, não porque estamos seguindo um curso sobre como caminhar – não há cursos que nos ensinem a caminhar na vida – isso se aprende com os pais, com os avós, com os amigos, ajudando uns aos outros. Na vida, aprendemos, e isso é treinamento para caminhar. Deixo-vos estas ideias. Caminhar e, se cair, levantar-se; caminhar com um propósito; treinar todos os dias na vida. Na vida, nada é de graça, tudo tem um preço. Apenas uma coisa é de graça: o amor de Jesus! Portanto, com esse amor gratuito que temos – o amor de Jesus – e o desejo de caminhar, caminhemos com esperança, olhemos para as nossas raízes e sigamos em frente sem medo. Não tenham medo. Obrigado! Adeus!”

Com essas palavras do Papa, no meio de um milhão e meio de pessoas e diante de Jesus na Eucaristia, enquanto lágrimas caem dos meus olhos, entendo por que aquele lugar foi chamado de Campo da Graça… porque somente o amor de Jesus é gratuito… Deus é a maior Graça que pode acontecer em nosso campo de vida, e isso não pode ser descrito, porque palavras não são suficientes para explicar o infinito do amor, porque “o amor é tudo” (Santo Agostinho).

Conclusão da JMJ

Com a Santa Missa em 6 de agosto, a Jornada Mundial da Juventude não termina, é chamada especialmente de Missa de Envio – os jovens são enviados para levar a alegria que receberam e viveram com o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo como verdadeiros missionários no mundo, como Maria Santíssima fez ao visitar sua prima Isabel…

“Maria se levantou e foi às pressas” (Lc 1, 39). O Papa Francisco, meditando sobre o Evangelho da Transfiguração, deixou esta mensagem para os jovens em sua homilia: “Queridos jovens, gostaria de olhar nos olhos de cada um de vocês e dizer: não tenham medo, não tenham medo. Mais do que isso, digo uma coisa muito bonita. Não sou eu, é Jesus próprio que olha para vocês agora, que vos conhece, conhece o coração de cada um de vocês, conhece a vida de cada um de vocês, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o vosso coração. E hoje Ele diz a vocês, aqui em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude: ‘Não tenham medo, coragem, não tenham medo!'”

Continuação da JMJ em cada realidade

Após os dias em Lisboa, tive imediatamente a oportunidade de compartilhar a alegria da JMJ com meus irmãos religiosos, amigos fiéis e, acima de tudo, com os jovens e famílias da juventude agostiniana e do oratório de Santo Agostinho, primeiro em Marsala e depois em Valverde, na Sicília (Itália), sob o doce olhar de Maria Santíssima de Valverde. Em 15 de agosto, minha irmã e eu retornamos ao Brasil, e os outros jovens de nossa Diocese de Palmas e Francisco Beltrão também retornaram nesses dias.

Portanto, compartilhei um pouco da minha experiência na JMJ, que não terminou, mas deve continuar no coração de todos os participantes, incluindo eu, onde quer que estejamos. Portanto, as palavras deste texto não terminam aqui, mas devem continuar a ser escritas nas realidades em que vivemos.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *