Nós, os Vogais do LXXIX Capítulo geral, estivemos reunidos em Roma para primeiro capítulo extraordinário de sua história. Na esteira do Documento programático do LXXVIII Capítulo geral e à luz das palavras do Evangelista Lucas: “Enquanto conversavam e discutiam juntos, Jesus em pessoa aproximou-se e caminhava com eles (Lc 24,15)” nos colocamos à escuta do Espírito Santo para “caminhar juntos, agradecer, avaliar, programar e realizar” a vida da Ordem olhando para o futuro.
1. Caminhar juntos
Com este Capítulo geral nossa Ordem entendeu iniciar seu caminho em comunhão com toda a Igreja de Deus que é convocada em Sínodo: “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.
Acolhemos as palavras de Papa Francisco que convidou a Igreja a interrogar-se sobre um tema decisivo para a sua vida e a sua missão: a sinodalidade.
O Capítulo geral é a expressão máxima do nosso “caminhar juntos”, porque atua e manifesta a natureza da Ordem como parte da Igreja, Povo de Deus peregrino e missionário.
2. Agradecer
Nós agradecemos antes mais nada o Senhor, pelo amor com que nos acompanhou no caminho destes 430 anos de história da nossa família religiosa dos Agostinianos Descalços.
Somos gratos à Igreja, pela atualização das nossas Constituições; pela celebração frutuosa do Ano da Santidade e do Ano do Carisma; pelo alento recebido muitas vezes também ao enfrentar casos delicados; pela comunhão com nossos irmãos agostinianos OSA e OAR com os quais tivemos repetidas trocas de ideias, estímulos e ocasiões de partilha; pela celebração do primeiro jubileu de nossa presencia nas Filipinas nos seus 25 anos; pelo tempo extraordinário que estamos vivendo, apesar de suas provações (pandemia, guerra, crises, desafios econômicos etc.), provocações à mudança e à renovação; pela graça das Visitas Canônicas; pelo chamado à sinodalidade como estilo para construir o futuro; pela colaboração entre as Províncias.
Agradecemos a Providência divina que se manifesta na generosidade de todos os amigos e benfeitores que participam à nossa missão na Igreja com a oração, a colaboração e o suporte material.
Agradecemos pelo dom da fé e do chamado, pelas novas vocações, pela herança que somos chamados a construir e pelos novos horizontes missionários.
Agradecemos pelas muitas coisas levadas a cabo: a aprovação da segunda parte da Ratio Generalis Institutionis em vigor; a tradução em diversas línguas dos Estatutos e dos documentos; uma maior conexão através dos canais telemáticos e a revista Presenza Agostiniana; ter retomado com mais entusiasmo o trabalho da Postulação (continuidade das Causas ativas e abertura daquela do Servo de Deus, Fr. Angelo Possidio Carù) e encaminhado novos horizontes de trabalho com os leigos, os institutos femininos e os sacerdotes diocesanos.
3. Verificar
O tempo sinodal nos questiona sobre o modo com o qual caminhamos juntos. São tantos os temas que interpelam a vida consagrada em geral e em particular nossa Ordem.
Os pontos que seguem constituem ainda motivo de reflexão e de trabalho.
a) A clericalização constitui um dos perigos que ameaçam o projeto de consagração por uma acentuada ênfase sobre esta realidade por causa da qual vai-se insinuando e afirmando a errada convicção que sem a ordenação presbiteral o religioso é, por assim dizer, incompleta; e que, portanto, a profissão solene dos conselhos evangélicos é considerada não mais uma meta, mas simplesmente uma passagem transitória obrigada para chegar ao presbiterado.
b) Embora falte a preparação específica nos formadores, percebe-se o desejo de crescer na competência formativa, na escolha de lugares, métodos e instrumentos adequados.
c) Apesar do desejo de viver melhor nossa identidade de Agostinianos Descalços, precisa reconhecer que falta um conhecimento mais aprofundado da mesma.
d) Nossas comunidades, na busca de tornarem-se sinal de unidade na caridade e motor propulsor da revitalização de nossa vida espiritual, comunitária e apostólica, sofrem por uma realidade contrastante com este ideal. O individualismo, o reduzido número de membros nas comunidades, o excessivo compromisso pastoral e de gestão dos bens, a falta de prudência e sabedoria no uso dos instrumentos de comunicação social, a superficialidade em viver a vida de oração, tornam a vida comum frágil e incapaz de responder ao desejo mais profundo de autenticidade de seus membros.
e) O empenho pastoral de nossos religiosos é digno de louvor, mas não raramente marcado por personalismos e pela falta de valores agostinianos.
f) A missão não é um elemento adjunto, embora necessário, à consagração, mas é uma sua dimensão constitutiva, essencial. Não se pode ser verdadeiramente consagrados sem ser missionários. Embora existam dificuldades de inculturação (língua, costumes e tradições) caminhamos rumo a novas realidades e enfrentamos também na Europa o desafio da missão numa sociedade secularizada.
g) A atividade de promoção vocacional deu seus frutos, permitindo crescer numericamente, apesar dos abandonos.
4. Programar
Convidamos todos os confrades a abrirem-se ainda mais à sinodalidade, sempre numa visão de fé para partir novamente do Cristo, ao qual devemos nos conformar.
a) Tornar-se construtores de comunhão a partir da identidade comum traçada pelas Constituições e pelo Diretório; sua leitura, a aplicação e a averiguação no concreto da vida da comunidade constituem a base da comunhão entre nós.
b) Esclarecer durante a formação, inicial e permanente, a essência da vida consagrada agostiniana, aprofundando o estudo dos documentos da Igreja sobre a Vida consagrada e das fontes da nossa história e espiritualidade, deixar-se guiar pela Ratio para garantir uma formação comum. Compreender melhor que profissão dos conselhos evangélicos e ordenação presbiteral são duas distintas vocações, duas específicas consagrações e duas peculiares missões, que devem convergir harmoniosamente.
c) Para favorecer uma proposta formativa mais adequada é importante: tomar consciência de que a comunidade, testemunha de vida agostiniana descalça, é o primeiro sujeito formativo; qualificar melhor os formadores com a participação a cursos de especialização; coordenar encontros entre os formadores em todos os níveis da Ordem; aplicar a Ratio Generalis Institutionis; incentivar a missão dos Colégios Internacionais; valorizar a pastoral juvenil.
d) Para conhecer e viver melhor a identidade de Agostinianos Descalços propõe-se: a leitura das obras do S. P. Agostinho; a tradução dos textos próprios da nossa história e espiritualidade; o aprofundamento das Constituições e do Diretório; o estudo e o uso do Ritual; um melhor conhecimento dos nossos Veneráveis para difundir sua devoção.
e) Para construir e revitalizar o cotidiano de nossas comunidades propõe-se: dar prioridade à vida comum visando a partilha da vida e da fé; cultivar a vida de oração; celebrar regularmente o Capítulo da casa e as práticas comunitárias propostas por nosso Ritual; zelar pelas relações pessoais; ter a coragem da correção fraterna.
f) Planejar e realizar comunitariamente o serviço pastoral; transmitir o gosto pela vida comum nas atividades apostólicas; difundir a espiritualidade agostiniana nas realidades pastorais a nós confiadas; valorizar nossos religiosos ao promover cursos e atualizações; promover as Fraternidades seculares agostinianas segundo as normas e as diretrizes.
g) Para manter vivo nosso espírito missionário propõe-se: cultivar desde a formação inicial a espiritualidade missionária; planejar juntos o projeto missionário, envolvendo as várias realidades da Ordem.
h) Para um crescimento também qualitativo e limitar os abandonos propõe-se: que a comunidade toda seja promotora vocacional através de um testemunho autêntico; que no apostolado dê-se prioridade ao cuidado das vocações; que se siga a praxe comprovada com responsabilidade no discernir e acolher os candidatos e acompanhar particularmente os jovens religiosos e sacerdotes.
i) Para dar continuidade ao trabalho da Cúria geral propõe-se à mesma: encaminhar a revisão do Ritual e sua definitiva aprovação; continuar a tradução das fontes e da documentação corrente; emanar normas de secretaria e de arquivo; se for oportuno, chamar religiosos preparados das Comunidades da Ordem para os encargos necessários.
5. Realizar
Estamos conscientes de que a estabilidade das leis é coisa muito importante. De fato, durante este Capítulo geral fizemos um consistente trabalho de revisão do direito próprio; julgamos, todavia, não ter esgotado o trabalho e por isso desejamos:
• a nomeação de uma comissão de estudo interprovincial para preparar a parte V do Diretório;
• a nomeação de uma comissão interprovincial para a revisão do Ritual;
• a aprovação da primeira parte da Ratio Generalis Institutionis.
Em conclusão nós, os Vogais do LXXIX Capítulo geral (extraordinário), convidamos os confrades a caminhar juntos, como Jesus ressuscitado fez com os discípulos de Emaús (Lc 24,15) e Papa Francisco convidou a Igreja no Documento Preparatório do Sínodo: “juntos refletindo sobre o caminho percorrido, a Igreja poderá aprender do que irá experimentando quais processos podem ajudá-la a viver a comunhão, a realizar a participação, a abrir-se à missão”.
Para conseguir caminhar juntos, agradecer, avaliar, planejar e realizar, nos confiamos à intercessão da Virgem Maria, Mãe da Consolação e do Bom Conselho, do S. P. Agostinho e dos nossos Veneráveis Confrades. Amém.