Revista Ide e Anunciai: 11. Frei Angelo Caru

Frei Angelo Carù de Jesus Crucificado

Frei Angelo foi um religioso e sacerdote exemplar. Deixou-nos exemplos em todas as virtudes. Sua garra, sua determinação, sua paixão pelas vocações, seu amor a Jesus Cristo e a Nossa Senhora, vão ficar pra sempre marcados na mente de quem o conheceu. No Rio de Janeiro é conhecido como Frei Possídio. Ele está sepultado na capela dos Agostinianos Descalços no Cemitério Municipal de Ampére (PR).

 

 

 

 


Mestre dos Seminaristas na Itália

Desde os primeiros anos do seu sacerdócio, Frei Angelo trabalhou em prol das vocações. Na Itália, foi mestre dos seminaristas em Scoffera (1951 a 1961) e em Genova (1961 a 1964); também foi mestre dos noviços em Marsala (1964 a 1966). Aos 18 de março de 1966, partiu de navio para o Brasil. Sua grande paixão foram sempre as vocações sacerdotais e religiosas. Também sua irmã, Stefania Carù, é freira das irmãs da Caridade da Santa Cruz.

Ramos/Rio de Janeiro (RJ)

Frei Angelo trabalhou em Ramos, Rio de Janeiro (RJ), os períodos de 1966-68 e 1973-76. Em todos os lugares onde trabalhou tinha um carinho todo especial pelos doentes, como destacou o casal Orlandino e Lucy Bonacorso: “Por ele tenho muita gratidão e carinho pois sempre que podia visitava meus pais e rezava com eles. Era sempre uma visita prazerosa para todos nós, pois tratava-se de um Anjo que o Senhor enviava à nossa família. Meus pais lhe queriam muito bem. Quando minha mãezinha adoeceu ele se fez mais frequente em suas visitas, com orações e bênçãos. De volta para a Igreja, no caminho, visitava doentes da comunidade de Nossa Senhora Aparecida da Praia de Ramos”.

Frei Angelo em Ramos/Rio de Janeiro (RJ).

Bom Jardim (RJ)

Frei Angelo trabalhou em Bom Jardim (RJ) de 1968 a 1973. Com muita dedicação ajudava os demais religiosos em tudo o que lhe era pedido. Seu desapego sempre foi sua marca registrada, é o que testemunham Adalton e Ângela Carriello: “Era extremamente humilde e de coração puro. Viveu a pobreza conforme os votos e obedeceu fielmente a sua consciência, não se deixando, jamais, tentar pelos prazeres do conforto que o mundo oferece e até privando-se da boa mesa e do agasalho.

Não conheceu a vaidade e a cobiça. Nada era seu, tudo era para os outros, sendo capaz de doar até seus pertences. Seu semblante era suave e transparente como a sua alma”.

Em Salto do Lontra (PR)

O Frei Angelo celebrou a primeira missa como pároco em Salto do Lontra aos 03 de maio de 1980, como ele próprio relata no Livro Tombo: “03 de maio 1980 – O Frei Angelo às 17h celebrava a sua primeira S. Missa, como Vigário Interino, na Paróquia do Salto do Lontra, iniciando assim o seu apostolado aqui com a bênção do Sr. Bispo Diocesano”.
Dois anos depois iniciou a construção da atual igreja matriz: “24 de maio de 1982 – Hoje iniciam os trabalhos da construção da nova matriz aqui no Salto do Lontra. Na celebração da S. Missa se fez particular pedido pela obra a construir e pela proteção dos trabalhadores”.

Foram anos de intensas atividades apostólicas. Por exemplo: “20 de setembro 1983 – Fui na comunidade de São Pio X para a bênção das casas iniciei às 8:30 da manhã e fui acabando às 21:30h da noite, passando em 86 famílias. A impressão foi de uma comunidade boa, pobre, humilde”. Assim ele fez em tantas outras comunidades.

Neste período (7 anos e 10 meses) foram realizados aproximadamente 3.570 batizados, 2.904 primeiras comunhões, 1.194 casamentos e 2.198 crismas. Muitas foram as capelas construídas, os barracões, as comunidades novas em escolinhas e uma nova capela na cidade. Uma das celebrações que com certeza mais agradou o Frei Angelo foi a vestição religiosa de 17 seminaristas agostinianos descalços realizada no dia 01 de fevereiro de 1987, já na igreja matriz, ainda por terminar.

Suas últimas linhas registradas no livro Tombo: “03 de março de 1988 – Hoje à tarde acabou a visita programada a todas as comunidades e escolinhas da paróquia. O tempo permitiu completar todo o roteiro. O povo em geral participou numeroso testemunhando o carinho e a saudade do povo. Vários presentes o padre ganhou do povo… Os trabalhos da nova matriz estão continuando… Deixo a paróquia depois de 7 anos e 10 meses agradecendo a Deus e a N. Sra. Aparecida por tudo aquilo que conseguiu-se realizar para a glória de Deus e o bem do povo. Deo Gratia et Mariae. Frei Angelo Carú OAD” (Informações obtidas do Livro Tombo da paróquia de Salto do Lontra, Livro 1, pág. 47 – 96v).

Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida, Salto do Lontra (PR).

Toledo (PR)

Frei Angelo fez parte da comunidade Santa Mônica de Toledo de 1988 a 1995. Neste período, exerceu várias funções: Pároco da paróquia N. Sra. Aparecida de Ouro Verde do Oeste; Mestre dos professos; Prior da comunidade e superior Delegado da Delegação brasileira. Aos 03 de outubro de 1982 Frei Angelo foi para Itália para fazer uma arrecadação, como ele mesmo relata: “O pároco vai para Itália para arrecadar fundos para custear a construção da casa de noviciado da sua Ordem em Toledo. Em sua ausência, virão aos sábados e domingos e quando precisar, os padres de Ampére” (Livro Tombo da paróquia de Salto do Lontra, pág. 69v). Assim também aconteceu com o seminário de Ampére, de Nova Londrina, do Rio de Janeiro. Suas viagens pra Itália eram providenciais e se tornaram fundamentais para a construção desses seminários.

Frei Angelo e Frei Doriano com um grupo de Seminaristas, Toledo (PR).

Ouro Verde do Oeste (PR)

Frei Angelo foi pároco de Ouro Verde do Oeste, por mais de sete anos, desde o início de 1988, como ele mesmo escreve no livro tombo: “Aos 14 dias do mês de fevereiro, do ano mariano de 1988, tomei posse na paróquia N. Sra. Aparecida, na presença do Sr. Bispo Diocesano Dom Lúcio Ignácio Baungartner, demais sacerdotes e do povo da comunidade cristã de Ouro Verde”. Frei Angelo deu continuidade ao projeto da construção da torre da igreja matriz: “10 de abril de 1988 – Inicia-se neste mês a construção da nova torre da igreja matriz. Será um monumento de fé e união da comunidade e uma lembrança perene do ano mariano que estamos celebrando. Será também uma lembrança viva do amor, da dedicação do Frei Luis Bernetti que guiou a paróquia com sabedoria e amor por cinco anos”. A torre foi inaugurada no dia 24 de julho de 1988, durante a festa de São Cristóvão.

Enquanto era pároco de Ouro Verde, Frei Angelo ajudava no Seminário Santa Mônica de Toledo, sendo Mestre dos professos e também superior Delegado do Brasil. Neste período foram realizados em Ouro Verde, 1.063 batizados, 786 primeiras comunhões, 932 crismas e 327 casamentos.

Seu último dia como pároco de Ouro Verde foi dia 23 de maio de 1995, quando voltou para casa do Pai. Morreu quando se dirigia a Ouro Verde para celebrar a santa missa. Como falou Dom Agostinho José Sartori, na missa de exéquias, “morreu como um verdadeiro soldado, em campo de batalha”.

1ª Comunhão de Frei Osmar Ferreira, Ouro Verde do Oeste (PR),
1991.

Nova Londrina (PR)

Frei Angelo não morou em Nova Londrina (PR), mas muito trabalhou para ajudar a construir aquele seminário e como Superior do Brasil (1991 – 1995), fez muitas visitas àquela comunidade, que por muitos anos foi sede de noviciado aqui no Brasil. Os Agostinianos Descalços, marcaram presença naquela comunidade desde a chegada do Frei Vicente Mario Sorce, em 1978. No início de 1993, mesmo sem o seminário estar pronto, instalou-se na casa paroquial, a primeira turma de noviços. No ano seguinte foi inaugurado o novo seminário.

Seminário Nossa Senhora da Consolação, Nova Londrina (PR).

Devoção à Virgem Maria

Ambos os Bispos, de Toledo e de Palmas, por ocasião do funeral do Frei Ângelo, salientaram a devoção do Frei Angelo pela Virgem Maria, lembrando que ele sempre encerrava as celebrações com o canto “Dai-nos a benção, ó mãe querida, Nossa Senhora Aparecida”. Dom Agostinho, de Palmas, foi ainda mais enfático ao dizer: “…creio que ele mantinha colóquios espirituais com a Virgem, por causa do modo que lhe era devoto”. Em suas viagens, com seu fusquinha, de Ampére a Toledo, de Toledo a Nova Londrina nunca se contentava em rezar apenas um terço, seguidos de cânticos dedicados a Nossa Senhora, é o que testemunham todos os que viajavam com ele.

Peregrinação ao Santuário de Santa Izabel do Oeste (PR),
1991.

Missionário Incansável

Dom Clemente José Carlos Isnard, Bispo Emérito de Nova Friburgo (RJ), na visita pastoral que fez na paróquia de Santa Rita de Euclidelândia, depois que Frei Angelo tinha saído há bastante tempo, disse a um religioso da Ordem: “Frei Angelo foi um verdadeiro missionário. Ainda se percebem em todas as comunidades da paróquia as marcas de sua presença”.Sobre sua alma missionária testemunha Frei Eugênio Cavallari, Prior Geral de 1987 a 1999: “A sua decisão de partir para o Brasil era de fato em consonância com o endereço pastoral e espiritual de sua vida. Ele era um missionário nato, feito para as situações “de fronteira”, para abrir novos horizontes e novos espaços para nossa Ordem”.Dom Agostinho falando do Frei Angelo elogiou o seu zelo apostólico consciente das necessidades da Igreja “que iria dar início a uma nova missão no longínquo Mato Grosso, onde seu zelo missionário e apostólico fez sentir a falta de sacerdotes”. No dia 06 de fevereiro de 2011, Dom Gentil de Lazari, da Diocese de Sinop, acolheu os Agostinianos Descalços em sua Diocese, entregando-lhes a Paróquia Papa João XXXIII de Colider (MT). Realizou-se assim, depois de 16 anos, o sonho missionário do Frei Angelo. Em dezembro de 2015 foi erigida a comunidade Frei Angelo Carù que, em fevereiro de 2016, assumiu a paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Nova Ubiratã (MT).

Encontro Vocacional, Lucas do Rio Verde (MT).

Nosso querido avô

Nos últimos anos da vida do Frei Angelo, o chamávamos carinhosamente de “Avô”. De fato ele se questionava: “Será possível que vamos morrer sem deixar filhos e netos?” Convidava, insistia, ia buscar os vocacionados em casa. Nada era empecilho para ele conquistar uma vocação. Muitos dos seminaristas testemunham que sua vocação nasceu após o convite do Frei Angelo, que com seu entusiasmo, também foi o motivo da perseverança. Sua maior alegria nesta terra era participar das celebrações vocacionais: vestição, profissão dos votos e ordenações diaconais e sacerdotais.

Encontro com o papa João Paulo II,
1992.

O Amigo dos Pobres

Para finalizar este artigo, trazemos o testemunho de Dom Luis Bernetti, confrade e grande amigo do Frei Angelo.“Como sacerdote, era o “nosso Frei Angelo”. Indiscutivelmente exerceu seu ministério, santificando o povo de Deus. Com pequenos gestos, como ficar na porta da Igreja cumprimentando os adultos e brincando com as crianças, ou repartindo seu alimento com as crianças da rua, ele edificava o seu rebanho. O entusiasmo ao celebrar a Santa Missa, ele fazia com que os fiéis se empolgassem, e os incrédulos, no mínimo se questionassem… Por isso quero apenas lembrar alguns episódios que poderia chamar “Fioretti do Frei Ângelo”: Em Bom Jardim, estado do Rio de Janeiro, no tempo de inverno, por estar a cidade a uma boa altura do nível do mar, o frio se faz sentir bem, sobretudo na madrugada e nas primeiras horas do dia. Meu quarto ficava na frete do único banheiro da casa. Uma noite escutei quando o Frei Ângelo se levantou, pois era sempre o primeiro e logo ia à Igreja. Pouco tempo depois de ele ter saído, escutei um barulho, eram os passos dele, que porém não estava sozinho. Algo estava acontecendo, mas não levantei para ver porque o calor dos cobertores falaram mais forte da curiosidade.  Mais tarde, na hora do café perguntei: “Frei Ângelo, que aconteceu hoje de manhã, que você voltou em casa e fez barulho?”  Não aconteceu nada não, respondeu, mas com um tom de voz que não convencia. Depois disse: quando cheguei na Igreja, encontrei em frente da porta da entrada um mendigo dormindo. Trouxe-o em casa, dei-lhe banho, dei-lhe vestes, porque as que usava eram todas rasgadas, e ofereci café.Outra vez, Frei Ângelo foi visitar o Pe. André Boaventura pároco de Cordeiro. Este padre tinha recebido algumas caixas de remédios e nas caixas com os remédios havia também outras coisas e algumas camisas. O padre deu de presente uma bela camisa ao Frei Ângelo que a recebeu com muito prazer e agradeceu. No caminho de volta, encontrou um casal de velhinhos a pé, parou perguntou onde iam e deu carona, na hora de deixá-los pegou a camisa e a deu ao velhinho”.

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