Revista Ide e Anunciai 4. Regra de Santo Agostinho

Santo Agostinho, no século V, escreveu uma regra de vida, que ao longo dos séculos vem orientando muitas congregações religiosas. O santo pede, neste escrito, que seus seguidores vivam em unidade formando uma só alma e um só coração em Deus, tendo tudo em comum, seguindo o exemplo das primeiras comunidades cristãs. A Regra fala ainda sobre a oração, a castidade, a correção fraterna, a humildade, etc. A seguir alguns números deste valioso documento.


1 – Antes de tudo, irmãos queridos, amai a Deus e, em seguida, ao próximo, visto serem estes os principais mandamentos que nos foram dados.

2 – Na vida conventual, observai, pois estes preceitos.

3 – Vivei unanimes na casa, tendo “um só coração e uma só alma” (At 4,32) em Deus, porque a concórdia é a primeira finalidade de vossa vida em comunidade (cf. Sl 67,7).

4 – Nada chameis, por isto, propriedade vossa, mas tudo seja comum entre vós. O superior distribua a cada um o alimento e a roupa (cf. 1Tim 6,8) não de maneira uniforme para todos, porque nem todos tem a mesma saúde, mas segundo as necessidades individuais, pois nos Atos dos Apóstolos lemos que “eles tinham tudo em comum e a cada um se distribuía conforme a sua necessidade” (At 4,32).

10 – Dedicai-vos com zelo (cf. Cl 4,2; Rom 12,12) à oração nas horas e nos tempos marcados.

12 – Quando vos dirigis a Deus com salmos e cânticos, vivei no coração o que exprimis com a boca.

19 – Vosso comportamento seja discreto. Não chameis atenção pela vossa maneira de vestir, tão pouco procureis agradar por ela, mas por vossos bons costumes.

20 – Quando sairdes, ide juntos e juntos ficai, quando chegardes ao destino.

21 – Nada haja no vosso modo de andar, de parar e de comportar-vos, assim como em todos os vossos movimentos, que possa ofender o olhar de outros. Tudo esteja de acordo com o vosso santo estado de vida.

31 – Nenhum dentre vós trabalhe para si, mas todos visem ao bem comum, dedicando-se ao trabalho com maior empenho e alegria do que se cada um trabalhasse para si próprio. Da caridade está escrito que ela “não procura os próprios interesses” (1Cor 13,5). Isto se compreenda assim: Ela antepõe o comum ao próprio e não o próprio ao comum. Sabei, pois, que o vosso progresso espiritual será tanto maior, quanto mais zelo tiverdes pelo bem comum, antepondo este aos interesses particulares, de maneira que todas as necessidades temporais fiquem ofuscadas por aquela caridade que permanece eternamente (cf. 1Cor 12,31; 13,3).

41 – Não haja brigas entre vós (cf. 2Tim 2,24; Ecl 28,10) ou, se as tiverdes, terminai-as o quanto antes. Caso contrário, a ira transformar­se-a em ódio, tomando uma lasca a forma de viga (cf. Mt 7,3) e fazendo da alma uma assassina, pois lemos na Sagrada Escritura que “quem odeia seu irmão é homicida” (1Jo 3,15).

46 – O superior não se julgue feliz pelo poder que lhe foi conferido, mas pelo maior raio de ação que tem para praticar a caridade (cf. Lc 22,25-26; Gl 5,13). Ele está acima de vós pela sua posição na comunidade, mas perante a face de Deus, prostre-se aos vossos pés, em virtude de seu temor para com Este (cf. 1Tim 2,7). Modere os turbulentos, encoraje os tímidos, sustente os fracos, seja paciente para com cada um (cf. 1Tes 5,14). Mantenha a disciplina com amor e saiba imprimir respeito. E, se bem que ambas as coisas sejam necessárias, prefira antes ser amado, do que temido lembrando-se que deverá prestar contas de vós a Deus (cf. Heb 13,17).

48 – O Senhor vos conceda a graça de observar com amor esta Regra, como amigos da beleza espiritual (cf. Ecl 44,6), irradiando o bom perfume de Cristo (cf. 2Cor 2,15; 1Pd 2,12; 3,16) pela vossa santa convivência, não como escravos debaixo da lei, mas como pessoas livres sob a ação da graça (cf. Rm 6,14).

49 – Para que possais olhar-vos nesta regra, como num espelho, nada transcurando por esquecimento (cf. Tg 1,23-25; Heb 12,5), seja-vos lida uma vez por semana. Se constatardes que cumpris tudo o que vos foi prescrito, agradecei a Deus, autor de todo o bem. Se, pelo contrário, verificardes ter faltado em alguma coisa, arrependei-vos do passado e preveni-vos para o futuro, pedindo que vos seja perdoado o débito e que sejais preservados de ulteriores tentações. Amém!

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